sexta-feira, dezembro 21, 2007

In utero


Este ano tenho o Natal cá dentro. Nunca tinha acontecido. Sempre achei bonito que acontecesse. Este ano sou eu o embrulho, de laço azul. Tenho cá dentro o Rossio iluminado e aconchegado em lã e cheiro de castanhas assadas. Sinto-me calda morna de rabanadas, no consolo das avelãs roubadas à mesa ainda intocável. Era ainda uma menina da última vez que experimentei um Natal assim.


Um Natal assim para todos. Queria mesmo.


Há quem acredite no Pai Natal...

- Mãe, que prenda queres para o Natal? Um carro ou uma casa?

Eu prefiro acreditar na minha filha.

sábado, dezembro 15, 2007

Do Natal na escola...


Giro, giro é assistir à excitação dos pais cantando o que eles interpretavam em palco, com gestos e tudo, e ver-me também nesta alegre figura, à custa de tantos ensaios que chegavam inevitavelmente à casa de cada um, desde o início do mês de Novembro. Eu abanei o rabinho e tudo - atenção! - como o patinho da canção!

Giro, giro é dar comigo comovida, às lágrimas, com a actuação dos filhos dos outros...

Giro, giro foi ter sentido ali o verdadedeiro espírito de Natal, o autêntico, o genuíno, sem uma referência que fosse ao meu Natal católico. O colégio é laico, eu não, mas acho que é assim que deve ser. A pluralidade intelectual, moral e social também se educam.


sábado, dezembro 08, 2007

Frase do dia (de ontem)

«Estou tão cansada, que tenho medo de mim...»

quinta-feira, dezembro 06, 2007

Ela e Sophia. Sophia e Ela.

Lembro-me de ter passado por longos tempos de perturbação, aquando da morte de Sophia. Nesse mesmo ano nasceria Ela. E o inconformismo durou tanto tempo, que, dois anos depois, quando Ela agitou no ar uma folha rabiscada, gritando "Olha, mamã! É o mar!", a surpesa condicionada acendeu-me no pensamento um "Ah! Sophia! É o mar de Sophia! É a Menina do Mar!" Pois... Podia lá ser! Ela nunca lera Sophia. Eu nunca Lhe lera A Menina do Mar. Mas estava tudo lá - achava eu. De tal forma que tratei de colar as palavras ao desenho, a ver se a coisa convencia os mais cépticos, se lhes entrava pelos olhos dentro aquilo que eu estava a ver. Assim:



Meninas do Mar_0001
Colocado por dia-a-dia


Hoje fui buscá-Las, às duas. Não tropecei nelas. Fui buscá-Las. Em boa verdade, era a Ela que procurava. Novos receios fazem-me procurá-La, trazê-La até mim, puxá-La contra o meu peito. Na busca daquele desenho dei então com Sophia, porque ambas se haviam juntado há um ano atrás. E gostei tanto de as ver juntas! Para mim, foi feliz a hora em que me lembrei, precisei, de as misturar.



Texto: Sophia de Mello Breyner Andresen, excertos d'A Menina do Mar.
Desenho: Rita, a querida filha desta mãe.
Música: Madredeus, As Ilhas dos Açores.

quinta-feira, novembro 29, 2007

Há desejos que não podemos manifestar a uma mãe...




E eu só disse que aquele frasquinho de doce de abóbora estava óptimo...

(Doce de abóbora com noz, que eu como aos montes em tostas, com requeijão de ovelha... Prazeres de Outono, enfim...)

Sim, ajuda...


Só não sei até quando é que isto pega... Mas é verdade que se torna mais fácil orientar-lhe os horários logo de manhã, à tarde (na agora crítica hora do banho) e na difícil hora de deitar...

Esta gracinha apresenta alguns problemas de concepção - programação de actividades limitada a um total de 6o minutos, deficiente fixação de fichas, ausência de um dispositivo de bloquemento de botões... - ainda assim, ajuda-os imenso na criação de referências temporais e "5 minutos" passam, definitivamente, a ter um significado diferente de meia hora.



quarta-feira, novembro 28, 2007

Se me dão licença...

Com toda a humildade, inocência, espírito de cooperação e, até, sacrifício pessoal (onde é que eu já ouvi isto?) venho sugerir a construção do novo aeroporto na varanda de minha casa. A área é plana, com localização perto de Lisboa e boas acessibilidades. Estudo de viabilidade não há, mas isso arranja-se. Avaliação de impacto ambiental também não há... mas é preciso?

terça-feira, novembro 27, 2007

Consumismo - a negação

Já houve quem tivesse assistido, atónito, ao deambular da R. pelos corredores do hipermercado, sem dizer, uma única vez, "eu quero!..."

A verdade é que, desde que faço compras com ela, desde recém-nascida, NUNCA peguei fosse no que fosse para lhe dar, NUNCA lhe pus nada nas mãos do que se apresenta nas prateleiras, NUNCA lhe perguntei "Queres?" Quando muito, deixo pegar para ver, explorar, brincar até, sem esquecer que "o que aqui está é da senhora da caixa, não é nosso, só podemos ver e mexer sem estragar". Resumindo: nunca tomei a iniciativa de dar, e a ela nunca lhe passou pela cabeça ficar com o que não lhe pertence. Isto até ter noção de que tudo se pode comprar, tudo tem um preço (até as pessoas, dizem, mas a essa parte ela ainda não chegou). Acho que foi assim que se habituou a ver na ida às compras um momento de pragmático abastecimento doméstico, meramente.

Pouco antes de fazer três anos, começou a expressar desejos de natureza mais consumista, mas nunca como pedinchice. Vai dizendo: "A R. queria...", "A R. gostava...". E pode passar diante do objecto da sua ambição que não diz "Eu quero!"

E assim chegámos ao "A R. queria uma pita [pista]...". Ora, assim que o automobilístico desejo chegou aos ouvidos da avó, a pista tomou forma e esteve mais de um mês à espera, guardada no seu embrulho, enquanto não chegava o dia 26. O dia de aniversário saldou-se na módica soma de quatro prendas, um bolo do Noddy e um bolo de amêndoa e requeijão (desejo que a avó também apanhou pelo ar e não perdeu tempo nenhum a atender). Com o primeiro embrulho rasgado - a pita, pois então! - entrou numa espécie de transe, delírio, passou-se para outra dimensão, eu acho. De tal forma que não sei se acreditam, mas a prenda que os pais escolheram para ela ainda ali está, embrulhadinha, virgem na sua condição de presente de aniversário - ainda não a abriu. Eu entendo, não me melindro e até me orgulho, de certa forma - aquela não foi a prenda que ela quis, levianamente, entre o centésimo episódio do Ruca e o sexagésimo do Little People. Aquela foi a prenda que ela quis muito, muito, muito, que a manteve a sonhar acordada e pela qual soube esperar pacientemente.

Hoje, na mochila da escola, não houve como evitar o peso de dois Volkswagens, um camião tire, um furgão dos correios, uma carrinha blindada e um veículo da polícia - tudo em segredo, como devem ser mantidos os objectos do nosso desejo, cujo valor só nós entendemos.

segunda-feira, novembro 26, 2007

3

A conta que Deus fez – dizem. As contas que vou fazendo, incrédula – Como foi que somaste 3 anos? Como te atreves a chegar a casa comunicando-nos o nome do teu namorado? Que conversa é essa de nos vires ensinar que há cores transparentes e opacas? Com que autoridade queres combinar riscas, bolas, quadrados e flores, na indumentária que levas à escola? Que à-vontade é esse de andares aos trambolhões e vires depois dizer que te desequilibraste e magoaste o ombro esquerdo ou o direito, sem falhas de lateralidade?

Responde! Damos-te mais um ano para nos responderes! Bem... pensando melhor, damos-te a vida. Ou por outra... não nos respondas. Segue, desde que pares de vez em quando para te poder beijar... só para te poder beijar. SEGUE.

quarta-feira, outubro 31, 2007

Vou dizer-te uma coisa, mãe...


Hoje é dia d' Ai ó lindo...




E eu, que nunca achei gracinha nenhuma à tradição importada, sendo assim, aceito.

quarta-feira, outubro 03, 2007

Briefing

Tenho o prédio repleto de meninos do gás e o forno continua no meio da cozinha...

O menino do gás

Entrou-me cá em casa, sem bilha cor-de-laranja - com ar fresquíssimo, é certo - aparafusou, desaparafusou, enroscou, desenroscou e declarou: "Se tivermos de voltar, só a partir das 14h00."



Se tiver de voltar???!!! Se???!!! Com o forno no meio da cozinha??!! Quer-me cá parecer que estamos a atingir os píncaros da discriminação sexual!... Eles, com as meninas dos gás, governam-se muito melhor...

domingo, setembro 30, 2007

Lá em cima está o ti-ro-li-ro-liiiro...

Cá em baixo está o ti-ro-li-ro-lóóó... Sendo este segundo eu própria, vítima da minha vizinha de cima, que tem uma noção muito sui generis de "serviço público". Acha a senhora que, oferendo-me a sua música aos gritos, pratica o mais caritativo acto de partilha. Se assim não fosse, não teria a benemérita optado mais recentemente por abrir as janelas do apartamento, qual porta pontifícia em ano de Jubileu, para brindar toda a freguesia com os acordes do seu hi-fi.

Bom, mas os codóminos do 3ºD não passaram do mote que me traz à ideia de "serviço público". É que ando cá com a consciência roída, por me considerar em falta de há uns tempos a esta parte. Porque há coisas que tenho vontade de publicar no blog, mesmo sem lhes reconhecer qualquer utilidade pública; e há outras que, mesmo faltando a vontade, sinto que devo publicar, porque daí poderia vir grande benefício para muita gente... sinto-o como uma espécie de obrigação social. Sim, um blog tem obrigações socias a observar, queiramos ou não, a partir do momento em que abrimos janelas para a rua. E eu só não as observo por preguiça pura. Bem... isto digo eu... se calhar, o meu "serviço público" nem teria interesse para ninguém, e o melhor seria cingir-me à minha condição de ti-ro-li-ro-lóóó e deixar-me de cantigas...

Nota de esclarecimento:
Vem isto a propósito de qualquer coisa de muito importante que já deveria ter publicado no outro blog... Mas a paciência, senhores, a paciência...

segunda-feira, setembro 24, 2007

Sinto-me cega


Quando as fotos me abalam em ondas de choque, só porque não reconheço a miúda enorme que vejo. Não sabia que ela estava já assim. Juro. Não sabia.


sexta-feira, setembro 21, 2007

Dias úteis

O sábado e o domingo. E quem inverteu o conceito é um filho da mãe de um masoquista.

quarta-feira, setembro 12, 2007

Volta não volta

Reparo que este blog anda demasiadamente baby... Reparem no advérbio. Não é a minha vida - que este blog não é a minha vida- é o blog, nem sei dizer porquê... Mas isto passa.

Peculiar

Peculiar é o facto da minha miúda só fazer xixi numa sanita e cocó num bacio. Peculiar é ainda o facto de andarmos sempre com um redutor de sanita atrás de nós, porque não é capaz de usar sanitas estranhas. Estranho.

Daqui, vai um beijo

Apertado, apertado, para as mães de filhos que, por estes dias, ficam na escola a chorar. Foi há um ano, mas não esqueci. Das dezenas de pedaços que me faltam, uma boa parte foi-me arrancada por aqueles dias, sempre que a deixava a chorar. Passou.

segunda-feira, setembro 10, 2007

Ai a Língua Portuguesa...

A 90 minutos do baptizado da prima M., o pai apresentava-se com uma barba de quatro dias, quando ela lhe pede colo, trepando por ele acima.

- O pai não pode. Agora o pai tem de ir fazer a barba.

- Não. Não faças que já tens muita...

quarta-feira, setembro 05, 2007

Há fantasmas teimosos




Como aquele que espreita, quando ela pergunta "A R. ainda cabe no colo da mamã, não cabe?" E eu, fartinha de saber que vai caber sempre, mantenho-me assombrada pelos fantasmas da minha própria infância.

Cuidado com a miúda!




(Esta é para afixar junto ao portão da quinta, quando tiver uma.)

Debaixo dos caracóis dos seus cabelos...


segunda-feira, julho 30, 2007

Mais memórias

Depressa, depressa, depressa, que com a porta assim escancarada para o meio da estrada, mais carro nenhum passa e a sexta-feira tem pressa de chegar a sábado. A miúda até colabora e acomoda-se, atravessa o cinto e não protesta quando lhe peço que espere um bocadinho, porque está um carro para passar. Encosto a porta e faço o gesto maquinal do "venha, venha", de qualquer arrumador do Largo do Caldas, há uns anos atrás. Mas não veio. Veio, mas não passou. Quem parou mesmo ali, ao meu lado, atirou pela janela fora: "Olha, tu não és a S.?" Disse que sim, já em modo scanning, em busca rápida pelos ficheiros da memória. Mas não, aquela cara não me dizia nada... "De São Vicente? Lembras-te de mim?" Eh, pá... é chato, eu sei... mas continuava em branco e tive mesmo de dar a mão à palmatória: "Não me ocorre... Qual é o nome?" Nem assim... O embaraço era crescente, mas nem com o L.M. lá cheguei. Pedi-lhe o apelido. Ah! L.M.R.!!!! Sim! Sim???!!! Grisalho, pesado de anos, com filhos enormes no banco de trás???!!! O trânsito acumulado não deu tempo a esclarecimentos. Só um "Tudo a correr bem! Gostei de te ver!" No entanto, teria bastado uma pergunta, uma só, daquelas que não fazemos por não estarmos certos de querer ouvir a resposta - O meu primeiro namorado? Do colégio onde crescemos, ao colégio dos nossos filhos vai um salto demasiado grande e, assim de repente, nem sei se quero atravancar de novo o trânsito à saída...

Memórias

O miúdo/homem - o moço, portanto - interompeu-me o trajecto e os pensamentos com um : "Olha a minha stora de Português!". Seguiram-se aqueles segundos, da cor da eternidade, enquanto a pergunta me baila na cabeça, a pedir resposta urgente: "Como é que te chamas? Eu lembro-me, eu lembro-me... Como é que te chamas?". E o miúdo/homem - miúdo pelos olhos ainda gozões, homem pela barba que faz picar os bejos - continuava: "Que saudades! Está na mesma! Fantástica..." Ai, moço, moço... Quem foi que te ensinou a diplomacia hipócrita e de circunstância? Não fui eu, que naquele tempo não sabias evitar o bocejo por cima da conjugação verbal! Por aí preferia que não crescesses e que me falasses das saudades da professora/miúda de ar fresco... Mas, na torrente do palavreado protocolar, eis que deixa cair: "Sempre na mesma! Fantástica! O mesmo cheiro de sempre!" ALTO! A nostalgia é genuína, a saudade também! O agora homem fala-me do perfume que, de facto, nunca mudei... e eu comovo-me, finalmente, com a memória dos sentidos, que nunca pensei resistir ao tédio de tanto verbo conjugado... Mas que aprendeste muito depois de mim, ai isso aprendeste...

quarta-feira, julho 11, 2007

Força, amigas da boa forma!

Esta é para ti, para ti e para todas as restantes que andam para aí a queixar-se de vacas e de mistelas com gosto a frutos tropicais. Não se queixem, não? Há quem padeça muito mais.

terça-feira, julho 10, 2007

Casei com um ateu, graças a Deus.

Tenho tanta pena que a hierarquia da minha Igreja insista em passar a imagem de que a virtude e a nobreza de valores está toda do lado de cá, ainda que o discurso oficial, o politicamente correcto, afirme o contrário. O lado de lá não passa da massa passível de conversão, o lado errado, o que devemos tolerar, até que a luz os ilumine. Tenho pena. Tenho pena de não ter senão isto para mostrar ao meu ateu. Quando casámos ainda alimentava a esperança de poder vir a ser, eu própria, exemplo da minha Igreja... mas quando olho para trás não sei sequer se tenho estado à altura do desafio. Ele sim, tem sido para mim um exemplo, uma lição.

Tudo isto à luz do acordo tácito que nos rege: eu nunca tentarei convertê-lo; ele nunca tentará demover-me da minha fé.

segunda-feira, julho 09, 2007

Lavoisier

Cheguei a acreditar que, de facto, tudo se transforma, nada se cria, nada se perde. Não, não é bem assim, que me desculpe o distinto senhor da Química. Não consigo deixar de ficar estupefacta com o exercício de paternidade que testemunho cá por casa. Ele NUNCA teve um pai verdadeiramente presente, envolvido, afectuoso e dado. Não teve modelo para estes predicados, no entanto, perdeu não sei onde a imagem do pai distante e alheado, e criou um pai de abraços, beijos e colo, assim, do nada. É O PAI. Ponto final.

segunda-feira, julho 02, 2007

sexta-feira, junho 22, 2007

CGTP em casa

Cá a Gente Também Pia - foi o que ela pensou, só pode.

- Hoje não quero ir à escola! - mas isto dito com ar de sindicalista irredutível.

Ora experimenta lá fazer geve, a ver se me impressiono.

terça-feira, junho 19, 2007

Dia D

Os meus alunos de 9º ano estão, neste momento, a realizar exame naional de Língua Portuguesa.

M. , por favor, não voltes a confundir um vocativo com um aposto! D., por Deus, uma anáfora não é uma metáfora! E C., meu querido, Camões não é teu contemporâneo!

Boa sorte, miúdos!

quinta-feira, junho 14, 2007

Alegrias do meus dias de giz

- Agora podem arrumar as vossas coisas. Está quase a tocar para sair.

- Já???!!!

quarta-feira, junho 13, 2007

Não acredites no fim. Só a dor acaba.

A1

Blog novo para visitar, desde o tempo em que nos mantínhamos no formato A3. Agora, em formato A4, revela-se o segredo.

terça-feira, junho 12, 2007

A4

O novo formato desta família.

sábado, junho 09, 2007

Quem espera...

Noutro blog, defini a ansiedade como «a intolerância à expectativa». E isto, nos dias que correm, não podia ser mais verdade.

terça-feira, junho 05, 2007

Mais dia, menos dia

A diferença não parece grande.
Em miúda, neste dia, tinha souflé, roupa nova, telefonemas e o bolo. Hoje, tenho flores, sms, e-mails, telefonemas e o bolo. Tudo mais ou menos na mesma, com a diferença que me sinto hoje muito mais feliz.

segunda-feira, junho 04, 2007

Eu, nem assim...

A conseguir o mesmo efeito, só se for com o nariz... Mas tenho pena, devo confessar.

domingo, junho 03, 2007

Mini, hipo, infra, micro

Porque até me contive e nem cuspi muito. E entendi por que ficava tão triste quando nenhum dos meus pais estava lá para me dizer adeus, naquelas mesmas mini, hipo, infra, microdespedidas, que, para quem é pequenino, são ENORMES.

quinta-feira, maio 31, 2007

Super, hiper, mega, extra...

E os prefixos todos não chegam. A educadora começou um bocadinho para o atrapalhado:

- Sabe... bem... estivemos a pesá-los todos hoje... por causa das cadeiras do autocarro, na sexta-feira... a R. ... Bem... A R. ... A R. é a única criança NA CRECHE INTEIRA que já não conseguimos sentar nas cadeiras, restam os assentos elevatórios... São 18 kg, sabe?...

- Sei.

E como não vai nada em assento elevatório, que a miúda ainda não tem os 22kg tidos como limite mínimo para a dita solução, lá foi a mãe à procura da Moby. Pronto.

Mas não era de nada disto que queria falar. Foi pretexto. Toda a gente sabe que eu nunca fui muito de vir para aqui embandeirar em arco com perímetros cefálicos, pesos, alturas ou medidas do tornozelo. É só para bradar que estou numa excitação que não contenho: amanhã vou dizer-lhe adeus, à partida para a praia! Eu, a mãe, completamente frenética, de mãos espalmadas no vidro, quiçá borrifando a saída de emergência de cuspidelas, enquanto faço caretas e graçolas para ela... É assim que me imagino. É a primeiríssima vez que sai com o colégio.

A MOCHILA, CÉUS! A MOCHILA! Será que me esqueço de alguma coisa? Será que vai muito pesada? Será que ela se orienta com o que lhe mando? Onde ponho as bolachas? Dentro podem não vê-las; na bolsa de fora, ela pode esmigalhá-las quando se encostar... A água chega? Será que vêem o protector?! Ai a pele dela! Se calhar ia melhor preso por um cordel a pender para fora da mochila...

ADEUS, FILHA! ADEUS! BOA VIAGEM! E lá ficará o vidro todo cuspido.

domingo, maio 20, 2007

34 x 2

Não, o resultado não é 68. O resultado anda à volta de dois irmãos, com a mesma idade nos próximos quinze dias. Eu com 34, ele também. Volto um dia ao assunto, nem por isso muito feliz. Hoje não me apetece.

PUAAAAAAAAARTOOOOOOO!!!

Não, não é a minha cor, mas é uma das cores cá de casa. Também não é a dela, que ela ainda é transparente.

sábado, maio 19, 2007

Quando for grande...

Em miúda quis ser retroseira. Merceeira também não ia mal. Era o deslumbramento que adivinhava diante da infinidade de botões, molas, fitas e carrinhos de linhas, de todas as cores do arco-íris, muito arrumadinhos em caixas que trepavam prateleiras... Era a sedução dos pacotes, pacotões, pacotinhos e pacotilhas, a juntar ao fascínio da caixa registadora, cheiinha de botões e barulhinhos (do tlim ao tlão, passando pelo toc e pelo scrach, estava lá tudo). Depois quis ainda ser peixeira... é que não havia nada comparável à submersão permanente, chafurdando, chafurdando, até ver os sargos bem amanhados.
Se fosse hoje, queria ser enóloga. É que tem tanta poesia...
«Cor granada de média concentração com suave violáceo no menisco. A retina capta-lhe um ligeiro gaseificado e muitas partículas em suspensão que, para nosso contentamento, se desvanecem com a permanência no copo. Ligeiro desprendimento de álcool num aroma quente, quase enternecedor, a puxar ao estilo Novo Mundo, com uma doçura frutada que não chega a ser enjoativa: suave couro bem coberto pelo cunho silvestre, a lembrar framboesa e groselha em compota, sugestões de ameixa seca, bombom de cereja e algum vegetal. Mais-valia aromática produzida pela madeira a conferir-lhe a nuance abaunilhada, o apontamento achocolatado e a cremosidade das notas de "expresso". E a constante sensação de haver nele qualquer coisa a lembrar terra seca e poeirenta. Será um mero condicionamento psicológico induzido pelo rótulo? Fiquei na dúvida. Ataque redondo, com razoável volume e, malgrado o vestígio do álcool, conseguindo preservar uma textura suave. Fruto e vegetal a combinarem-se numa evolução que, sem esconder uma estrutura relativamente simples, consegue manter alguma finura. Menos refrescante do que seria desejável com a correcção ácida a marcar presença na transição para um final com média persistência, bem amparado pela estrutura de taninos. Fiel ao receituário da edição anterior, embora o "nervosismo" do álcool prejudique a harmonia deste 2003. Mas nem por isso deixará de surpreender muitos consumidores, continuando a justificar plenamente a sua opção como vinho para o quotidiano. Perder este Terras do Pó? Nem pó!»

Qual Mia Couto....

O balão do João
Sobe, sobe pelo ar,
Está feliz o petiz
A cantarolar.

Mas o vento a soprar
Leva o balão pelo ar,
Fica, então, o João
A chorapingar.


Qual Mia Couto, tal figlia mia.

terça-feira, maio 15, 2007

msn

Há quem adormeça on line, não é verdade?

Estereótipos

Que na cabeça de uma criança de dois anos não são mais que referências, modelos, matrizes. Seja como for, odeio-os. Como odeio a mania de pôr a mãe a dormir cada vez que pega na "Família". "A Família" é um conjunto de mobiliário, acessórios, um adulto-macho, um adulto-fêmea e um bebé-anjo, que ela tem para ali, dentro de um saco. Gosta de compor cenas do quotidiano com aquilo, é natural. E a mãe de plástico invariavelmente estendida na cama a dormir, porque está muito canxada, é natural? Só não vos digo que lugar ocupa o pai nestas brincadeiras... O uso intensivo do rato provoca tendinite. Poupo-vos.

sábado, maio 12, 2007

Carta à prima Vera...

...Uma vez que o Pai Natal nos deixa órfãos todo o ano, para regressar só em Dezembro.




E para bom entendedor, um clique basta.

sexta-feira, maio 11, 2007

Mãos de lição cem, pés de lição zero

As mãos peganhentas, os pés pesados.

Terminaram, finalmente, as comemorações da centésima lição de Língua Portuguesa em cada uma das minhas turmas. Ninguém imagina o desgaste. Mas sou incapaz de lhes negar estes "festejos". "Festejos" com muitas aspas, muitas - a ideia que eles têm destas comemorações é muita diversa, dependendo, sobretudo, do nível de ensino de que estamos a falar. Por exemplo, para os miúdos do 7º ano, lição 100, com os zeros todos, tem de ter comes e bebes, mais comes que bebes, mas a dupla não pode faltar. Em contrapartida, para os alunos de 9º ano a coisa não tem de passar forçosamente pelo repasto, tanto que lhes propus a declamação de um poema de Pessoa, lá fora, junto ao campo de futebol, e eles aceitaram lindamente, e fizeram uma espécie de dramatização engraçadíssima, com um mostrengo de voz grossa e um homem do leme à beira da apoplexia. Foi uma aula fantástica!

Portanto, o que me cai mesmo mal são aquelas raves do 7º ano... Ele é sumos com gás a mais e copo a menos; ele é o bolo de bolacha que a cota fez, com mais natas que Maria; ele é gomas de boca em boca, que afinal este sabor a coca-cola já passou de prazo há bué; ele é Kizomba, Kuduro e Funaná, do mais fixe que há, tão piratas, tão piratas, que nem nas Caraíbas...

Enfim... servir o bolo ainda servi, comê-lo tive de comer, mas dançar Kuduro???!!! As mãos pegajosas ainda vá... afinal de contas, é a lição 100... Mas, por favor, deixem-me os pezinhos no chão, que lá nisso do Kuduro vou na lição zero!

Correu bem.

quarta-feira, maio 09, 2007

Ou sim, ou sopas

Sopas! Eu cá é mais sopas, definitivamente. E só gostava que a americanada toda me ouvisse bradar: EU CÁ É MAIS SOOOOPAAAASSSSS!!!

Quer dizer... um belo dia tecem elogios rasgados à chamada "dieta mediterrânica", com as obrigatórias saladinhas fartas, regadas com o seu fio de azeite; o pão dito "de segunda" (que para mim virá sempre em primeiro); o modesto copo de vinho; os ensopadinhos de cereais (vulgo papas); o peixe gordo ainda com cheiro a mar (antes mesmo de se renderem às virtudes do omega3); e, lá está, A SOPA! No dia seguinte, arranjam forma de tramar o mérito do velho continente e toca de difamar a sopa, desvirtuá-la, deixá-la reduzida ao caldo desenxabido, a fazer lembrar o que resta da água suja, depois de lavadas as chávenas de café! E nós, meninos UE, com o complexo da reverência, lá baixamos o nariz e ficamos com o rabinho a descoberto, enquanto vamos repetindo"Amen, uncle Sam"! Mas afinal que fantochada é esta de nos virem agora impingir a ideia de que a sopinha é muito boa para a saúde, sim, senhor, mas sem batata?!Ah! E já agora, eliminem a abóbora e a cenoura que também não fazem lá falta nenhuma! Certo. Ficamos, portanto, com a sopinha made in USA, preparada com uma base de... de... de... Eh, pá! De... de... de... Agora de repente não me ocorre nada para a base desta sopa... Ah! Pois claro! Que má vontade a minha! Rabanetes! Ora aí está o ingrediente que, cozido e bem passado, constitui a base ideal de qualquer sopa! Não é apreciador do tubérculo? Não há problema nenhum! Arranja-se já uma ramazinha de aipo que faz perfeitamente a vez! Também não é chegado ao aroma? Hmmm... Nabiça! Vai à varinha mágica e, sem mais nada, faz a base perfeita de qualquer sopa! Claro que só uma categoria de pessoas pode atingir o ridículo destas minhas sugestões - todos aqueles que alguma vez na vida já se entregaram à tarefa de fazer uma sopa. Quem percebe realmente de sopas (que não são certamente os senhores fast food nem os médicos/nutricionistas portugueses que lhes engoliram as teorias furadas!) sabe que não há nada mais elementar e óbvio que a receita de uma sopa, a saber: junte-se a uma boa base tudo o que nos vier à cabeça ou sobrar no frigorífico. E é justamente nestes últimos ingredientes (que devem ficar inteiros na sopa) que está o segredo do equilíbrio nutricional da mesma! Explicando: é claro que a base de uma sopa (isto é, a parte que se apresenta em estado líquido no nosso prato) pode ser mais ou menos carregada de batata. Idealmente, a batata, a cenoua e a abóbora devem aparecer naquela dose estritamente suficiente para garantir a homogeneidade do puré. O resto do "corpo" desta base deve ser conseguido à custa da cebola, do nabo, do alho, do alho francês, da courgete, da couve-flor, dos bróculos, etc. Mas eliminar radicalmente aqueles três ingredientes seria um disparate de calibre! Repare-se: a base de uma sopa, mesmo que leve bastante batata, abóbora e cenoura, é consumida em quantidades mínimas se, nesse constituínte líquido, pusermos a boiar uma série de outros elementos inteiros. Façam a experiência: cozinhem a sopa que tenho ali para o meu jantar, sirvam-na num prato fundo e retirem-lhe minuciosamente, com um garfo, os bocadões de feijão verde de partir e courgete que lhe acrescentei inteiros. Hão-de ver que ficam com uma quantidade ridícula de puré de legumes no fundo do prato! Ora, o mal de qualquer dieta jamais pode estar naquela penúria alaranjada, muito pelo contrário - a batata, a cenoura e a abóbora são importantes, em quantidades moderadas, e deixam-nos uma sensação de saciedade que nos leva a comer menos a seguir! Onde está, muitas vezes, o erro nutricional é no facto de confundirmos purés com sopas, propriamente ditas. Claro que, nesse caso, fartamo-nos de engolir batata, cenoura e abóbora! O que se quer são as chamadas sopas à lavrador (hmmmmmm!...) - a base reduzida ao mínimo (se puder ser só água, óptimo!) e os bocadões de tudo e mais alguma coisa acrescentados ao máximo, boiando, nadando e afogando-se, felizes e contentes, no nosso prato - incluíndo bocadões de abóbora e cenoura, por que não?! Outro erro crasso está tantas, tantas vezes no azeite que juntamos à sopa ainda ao lume, ou já depois de pronta, quando sabemos que teremos mais tarde de a requentar. O azeite é ingrediente fundamental de qualquer sopa, mas sempre a cru e usado com toda a parcimónia.


Resumindo, fica o conselho para o lado de lá do oceano: nunca tive a pretensão de os ensinar a fazer hot dogs, pois não? Então, deixem as sopas connosco, ok?

segunda-feira, maio 07, 2007

Todo o anacronismo tem o seu tempo - a prova

E de repente... a fralda tornou-se anacrónica. Nunca pede, nem pediu alguma vez, para fazer xixi ou cocó - orienta-se sozinha e tem um ataque de fúria se tentamos ajudar. De forma que, de um momento para o outro, sem mais nem aquela, dou com a minha filha a ir buscar o bacio, fazer o que tem a fazer, exibir a sua obra diante dos olhos de quem a queira apreciar (e temos de dizer que sim, que queremos!), deitar o produto do seu esforço na sanita, lavar o bacio, subir à banqueta para lavar as mãos no lavatório e, por fim, fingir que limpa as mãos à toalha.

A verdade entra-me pelos olhos dentro - Dr. Michel Cohen é que sabe. O seu a seu dono - Marco Bellini está para a massa e para o molho, como Michel Cohen está para as crianças e seus pais:

"No matter what you may have heard or read, toilet training is unnecessary."

Por falar nele, agradeço ao primeiro que saiba da edição desta BÍBLIA, em português, o favor de me avisar. Espero mais uns... dois meses. Findo o prazo atiro-me mesmo à edição em inglês.

BOOOOOOOOOOM DIIIIIIIAAAA!!!!

Voltaram! É só para avisar.

domingo, maio 06, 2007

Dia de Quem?

Só agora, há pouquinho, consegui reaver a prenda que me ofereceu - um colar, lindo, lindo, pintado por ela no colégio. Ofereceu-mo, mas expropriou-o de imediato. Foi um "muito obrigada, filha!" que valeu por cinco segundos apenas. Tudo na vida é efémero, eu sei, mas não era preciso tanto.

segunda-feira, abril 30, 2007

Com os copos

Mas de olho na garrafa. Convém. Sobretudo desde que a lei obriga à menção, no rótulo do vinho, da presença de sulfitos. Andamos muito distraídos, ou já toda a gente reparou que agora as garrafas de branco ou tinto apresentam a frase "Contém sulfitos", a letras muito pequeninas?

Ora, tanto quanto consegui apurar, estes sulfitos não são senão um conservante, derivado do enxofre, adicionado ao vinho, com efeito anti-oxidante e com o poder de matar bactérias. Note-se que algumas marcas/produtores optam pela menção "Contém E220", o que vai dar rigorosamente ao mesmo. Segundo li, na verdade não há vinhos sem sulfitos, uma vez que esta é uma substância produzida naturalmente durante o processo de fermentação. Simplesmente, se a presença de sulfitos não se fica pelo que é natural e passa à qualidade de aditivo, então a sua presença no vinho tem de ser declarada no rótulo.

Até aqui, tudo bem. A coisa funciona às claras como eu gosto. Tanto é, que, em 1997, o então Presidente da Repúplica promulgou inclusivamente o Decreto-Lei n.º 159/97 de 24 de Junho, transpondo para a ordem jurídica nacional aquilo a que uma Directiva Europeia já obrigava. Acontece que o relambório legal não obriga as marcas/produtores de vinho a mencionarem a quantidade deste aditivo diluída nos seus néctares... Olha que chatice! Esqueceram-se! Oh... deixa lá. Que importância é que isso tem? Eles já são tão queridos ao fazerem o favor de nos informar das porcarias que juntam à reserva de Duas Quintas de 2003, para quê procurar mais cabelos em ovos, não é verdade? Não, não é verdade. Nem eles são uns queridos, nem é líquido que os ovos não possam ter cabelos! E a coisa é tanto mais gadelhuda e desgrenhada quanto é certo que esta porcaria da família do enxofre (como o Demo, ele próprio) é responsável por aquelas estranhas dores de cabeça que experimentamos com uns golinhos apenas, ou uma valente crise de asma para os consumidores mais sensíveis. Sabia disto? Não? Eh, pá! Então eles não avisaram?! Ah... pois não... esta parte não tem de vir no rótulo. Mas, pensando bem, a mensagem subliminar está lá, é tudo uma questão de morfologia - eles nunca lhes chamaram sulfinhos, pois não? O que lá está escrito é "sulfitos" e a gramática avisa: a conotação é depreciativa. Só não vê quem não quer.

Passear macacos

Ou bugiar, dar banho ao cão, morrer longe, dar uma volta ao bilhar grande, ou... brincar com as bonecas. Eis o diálogo que institui o novo lugar-comum:

O pai provoca-a, com cócegas. Ela, atiçada pelo gene do mau feitio, abespinhada a ponto de lhe saltarem os olhos, protesta:

- Aiii!

- Ó filha, o pai estava só a brincar! Credo! - esta fui eu, a pôr água fresquinha na fervura.

- O pai é um brincalhão! Está sempre a brincar com a R.inha! Vai brincar com as bonecas, papá!!! - lá está o gene.

Eu não disse de onde vem o gene, atenção! Mas que domina, domina.

Eu que nem sou de modas


Cedi ao sucedâneo da soca holandesa, não desfazendo na chanquinha minhota, que não encontrei em versão cool.

domingo, abril 29, 2007

Tenho uma Avozinha




Postiça, bem entendido, mas avozinha ainda assim. Não sei bem porquê, todos as fadas-madrinhas têm ar de avozinhas, serenas, sapientes, benévolas em todas as suas acções. Ora, em exercício de funções, de varinha na mão, entendeu ela que devia levar-me ao pódio, qual Cinderela maltrapilha, desgrenhada, com direito a charrette e sapatinho de cristal por uma noite. Vai daí, sem mais delongas, atirou-me para o colo a distinção dos Thinking Blogger Awards. Coisas de fada-madrinha, enfim... relevemos.

A Avozinha vai com certeza desculpar-me a irreverência, mas vou roubar-lhe a varinha, para premiar mais cinco, de acordo com o regulamento, que sugere aos distinguidos que elejam cinco blogs que nos façam PENSAR. Um grande plim, então, para estes senhores:

PEDRO_NUNES_NO_MUNDO - Porque este homem PENSA, de facto, e leva-nos à exaustão por nos obrigar a pensar com ele, por nos arrastar para causas que passam a ser nossas. Porque tem um coração muito maior que ele próprio, escondido por trás da irreverência que aparenta.

Mamãããã!!! - Porque, por mais profunda que seja a ferida, mesmo em carne viva, a lucidez de espírito pode sempre salvar-nos. Porque nos faz pensar a dor e acreditar que as cinzas não são o fim.

Pipáterra - Porque desmonta a cada dia o mito da paternidade distante, de mão-de-ferro. Porque, descaradamente, se assume como um homem, muito para lá do pai e do marido. Não, não é um babyblog, como a barrinha lá em cima pode fazer crer, essa é só mais um apontamento de humor.

Aos meus olhos... - Porque tantas vezes as palavras são demais. Porque é por palavras que pensamos, mas o rastilho podem ser fotos assim.

Flores & Companhia - Porque mesmo que praticamente extinto, gosto de quem trata MUITO BEM a nossa Língua. Porque a isenção intelectual também me faz pensar.

domingo, abril 22, 2007

Auto-estima - up, and up, and up...

Conversa dela com ela, enquanto faz uma espécie de flexões, estendida no chão:

Ela 1 - Para cima, para baixo... Para cima, para baixo... para cima, para baixo...

Ela 2 - Muito bem, muito bem!...

Ela 1 - Obrigada, obrigada...

sexta-feira, abril 20, 2007

Pragmatismo

Quanto ao género é feminino, quanto ao número plural. Não, não me enganei, porque são várias as que me enchem a caixinha de soluções fantásticas, das mais triviais às mais insólitas. Que ninguém duvide: onde há um problema, há uma solução, basta encontrar a mulher que a detém. Sugiro que lhes batam à porta:

RAQUEL
NADIASMCOSTINHASAMÃEDOSMIÚDOSJASMIMANÓNIMODASNÓDOAS DECEREJASUSANACOSTADIA-A-DIA(QUEEUNÃOFAÇOIDEIANENHUMADEQUEMPOSSASER)

quarta-feira, abril 18, 2007

Bond, my name´s Bond, James Bond *


Mas aquele não era 007. Dizia ele que era o Homem-Aranha, pendurado no escorrega, quando lhe perguntei:

- Como te chamas?

- Homem-Aranha. Fábio Homem-Aranha - respondeu, a empinar o queixo, lá do alto. Ficou logo claríssimo que "Homem-Aranha" não era cognome, alcunha, nem título comprado. Era antes parte autêntica e genuína da sua identidade. Não havia nada de postiço ou fictício no nome.

- E quantos anos tens, Fábio Homem-Aranha?

Então começou a dedilhar os anos, um bocado atrapalhado, até conseguir esfregar-me no nariz quatro dedos espetados a custo - eram, portanto, quatro aninhos recentes.

Homem Aranha, pois claro. E eu só queria a ingenuidade dele e seria então a Mulher-Maravilha. Maravilha mesmo: 0% celulite, soutien nº 38, 60 kg distribuídos por 1,80 m... Como foi que disse? Sem morada certa? Sem o meu homem? Made in USA? Ok... Fico com a celulite... Como?! Ainda assim mantenho a abstinência e a bandeira estrelada, às riscas?! Pronto... esqueçam lá o 38... Ainda assim não dá para trocar pernas e braços debaixo do edredon?! Mulher. Ponto. Abro mão do "Maravilha". Vendo bem, até ficava um bocado piroso. E benditos quatro anos...



* Este é para ti, já que não posso fazer mais.

terça-feira, abril 17, 2007

Babyblogs

Têm a sua função, pois claro. Mas no masculino têm um gosto especial. Este e este já me puseram a rir à gargalhada. É a monotonia do X salva pelo factor Y. São sobretudo muito mais que babyblogs, porque nem só de babies vive o Homem.

A menina desculpe...

Mas importa-se de deixar os sacos por minha conta?

Isto para o caso das operadoras de caixa dos hiper, super, minimercados que frequento virem aqui ao meu blog.

Clausura

Hoje, aos microfones da TSF, um dos arquitectos mentores das tertúlias "Barulho na Casa" dizia que as discussões que programavam serviam para abrir as pessoas ao mundo, ou o mundo às pessoas, porque, segundo ele, quando gostamos e nos sentimos muito bem em nossa casa, ou amamos mais que tudo uma mulher, temos tendência para nos fecharmos no nosso paraíso, encantados pelo objecto da nossa paixão, e caímos numa espécie de solidão inadvertida, mas alimentada. Entendi muito bem o que quis dizer. Conheço muito bem a experiência. E pergunto-me: o inverso, o escancarar das nossas portas e janelas ao mundo, indiciará a chama apagada, a ausência de paixão?

Blogs? Eu não falei em blogs... Alguém falou em blogs?

A alma das coisas

Para já de uma chucha, em queda quase livre, falésia abaixo. Juro que hoje sonhei com uma chucha, a mesma que ela deixou cair, incrédula, lá do alto da ravina. Era das poucas que restavam. A marca já não as fabrica assim, em latex, de forma que estão em acelerado processo de extinção, primeiro nas lojas e agora cá em casa. Mas não foi por isso que me transtornou tanto a visão da chupeta ali tão perto, suspensa do penhasco, mas para todos os efeitos inacessível. Foi por ser um pedaço dela, da minha filha, que ali ficava, sem hipótese de resgate. O sol havia de declinar, a noite havia de chegar, a chuva havia de cair, o vento frio havia de soprar... e um pedaço da minha filha ali. A imagem custou-me tanto, que o meu espírito regrediu uns anos e, infantilmente, passou-me pela cabeça gritar por ajuda – viessem os bombeiros, o mais sofisticado corpo de intervenção, o Alouette da Força Aérea, um avião Canader – que aquilo era muito mais importante que a mata nacional a arder! Custa-me tanto, ainda agora, mais de vinte e quatro horas passadas, pensar naquela chucha que ali está... Estará? Segurei-a com força contra mim e desviei-lhe o olhar do abismo, como se quisesse poupá-la ao horrível espectáculo de um cadáver mutilado. Expliquei-lhe, naquele instante, que a chucha era agora de uma gaivota que a viria buscar. Tomara... Latex em escudo azul, no bico de uma gaivota, sobrevoando o Sítio, na Nazaré... era o sonho que queria para esta noite, porque, por mais estúpido que pareça, está a doer-me aquele bocadinho de filha ali, lá, tão longe, tão fundo, tão frio, tão só.

quinta-feira, abril 12, 2007

Finalista

Não, não é ao estatuto de menina de creche que me refiro, se bem que podia ser... Sim, a miúda é finalista - para o ano que vem já é garota de jardim infantil (!!!) Mas, para já, a ideia que vou digerindo com todo o gosto é esta de ela ser finalista da varicela. Ok, ok, isto é já uma ideia fixa um bocado enjoativa, eu sei, mas quem passou CINCO dias com ela em casa, em regime de clausura, fui eu! Portanto, se me dão licença - que dão de certeza, porque o blog é meu... - adeus, varicela-zoster, até NUNCA MAIS!

segunda-feira, abril 09, 2007

As minhas férias por umas pintas


O meu blog dominado pela varicela? Nããã...


Varicela - dia 7

Liguei ao pediatra a ver se podia observá-la e dar luz verde para o regresso ao colégio. Não, hoje não é possível. Só amanhã. Acontece que amanhã começo eu a trabalhar. Amanhã lá vai ela para a avó. Não regresso ao trabalho nas melhores condições. Achava que voltava de baterias recarregadas, depois de uns dias mesmo só para mim, com a miúda no colégio e eu a pôr a minha vida em ordem. Nada de nada. As minhas férias dominadas pela varicela transtornaram-me a vida e eu já só penso em voltar às aulas para descansar, finalmente.

Varicela - dia 6

Só a zona da fralda continua a dar trabalho, mínimo, mas dá. Como está sempre coberta, as borbulhas vão macerando e não conseguem secar como as outras. Até já tentei aproveitar a boleia da varicela para o desfralde definitivo, mas ao fim de dois xixis no tapete, um cocó na belíssima lingerie do Winnie de Pooh e novo xixi, em cascata, vinda lá do alto da cadeira de refeição, desisti. Quer dizer, suspendi o processo.

sábado, abril 07, 2007

Varicela - dia 5

Pronto. Confesso que ontem exagerei um bocadinho. O pior já passou, é verdade que nunca teve febre, é verdade que teve pouquíssimas borbulhas. Só não escapou à comichão, mas também foi só uma noite (INTEIRA!!!). Agora está tudo a secar e eu já vejo a bandeirinha xadrez, branca e preta, ali mesmo, no final da recta. Uf!...

sexta-feira, abril 06, 2007

Saudades da saudade

Eram sextas-feiras santas, sonhadas, desejadas. Caminhávamos os quatro, sempre adiante, embora às vezes um pouco baralhados pela geometria das transversais – é nesta, não é? Ou é só na próxima? A avenida sofria, sofre ainda hoje, de uma monotonia matemática. Mas a fábrica das amêndoas lá estava, e nós acabávamos sempre por dar com ela. Enquanto esperávamos pela nossa vez, os meus olhos iam lambendo chantilly, doce de ovos e glacé pelas vitrinas refrigeradas. Até que a minha mãe começava: “cento e cinquenta de tipo francês... o mesmo de molar... o mesmo de chocolate... também cento e cinquenta de Coimbra...” Depois fazíamos o caminho de regresso a casa, roidinhos pela saudade que provocavam aqueles saquinhos com atilhos aparentemente toscos. Era tão difícil abri-los sem nos denunciarmos... e depois da trabalheira para conseguir afrouxar o laço, ainda tínhamos o supremo azar de topar logo com as molares.. Blherrrrrrrc... As de chocolate é que eram! Até fazíamos o sacrifício de lhes desgastar a carapaça de açúcar, só para lhes atingirmos o coração! As de tipo francês já não nos deixavam tão felizes, mas enfim... íamos delapidando o açúcar colorido às trincadinhas cirúrgicas e depois cuspíamos a amêndoa. As de Coimbra vinham em terceiro lugar do ranking, não por snobismo a tender para Paris, mas porque tinham umas formas sempre muita mal paridas, que nos feriam o céu da boca.

Era o verdadeiro prazer sem espinhas, quando o meu pai resolvia tratar da parte dos atilhos, perante a censura incrédula da minha mãe: “Parece impossível! Em dia de jejum!... Tu não tens vergonha?!” O meu pai respondia com um franzir de olhos infantil e com a boca entupida ao estilo francês.

Tenho tantas saudades da saudade que acordava comigo naquelas santas sextas-feiras, de pecadilhos anunciados...

Varicela - dia 4

Faz de conta que ontem não disse nada, ok? Sexta-feira Santa? E alguém que leve a Idade do Gelo ao micro-ondas, que eu já não aguento mais!

Varicela - dia 3

A coisa corre de feição. Nada de febre, borbulhas poucas, comichão zero. Banhos frequentes com o gel D'Aveia Sept e muita besuntadela com Pruriced Gel. Já há vesículas a secar. Ela acha que ninguém lhe pode levantar a voz porque tem bauicela. Maravilha.

quarta-feira, abril 04, 2007

Varicela - dia 2

Começou ontem, por uma única bolhinha. Hoje já vai aí em vinte, bastante discretas. Nada de queixas nem febre. So far... Isto é coisa para quê?... Quatro dias e está despachado, não é verdade?

Quem é a coisa mais linda, mais doce, mais fofa, mais querida, quem é?

Uma gorda com varicela nas férias de Páscoa dos pais. Eternamente agradecidos. E tem cuidado com o que pedes, que Deus pode atender-te.

domingo, abril 01, 2007

Directas

Em consílio familiar, na cama dos pais, a desperdiçar o domingo de sol que entrava às riscas quarto adentro:

- És feliz, filha?

- Sim, feliz. E tu, mamã, és feliz?

- Sim, filha, sou feliz.

- E tu, papá, és feliz?

- Sim, Banica, o pai é feliz.

E a felicidade que lhe iluminou a cara anulou a luz listrada que galgava lençóis. Sem sombra de dúvida, entende o conceito. Sem sombra de dúvida, é FELIZ.

sábado, março 24, 2007

Síndroma do sangue azul

Não conheço melhor laboratório de ciência da educação do que um parque infantil. Confrontos geracionais, conflitos de interesses, provações da auto-estima... está lá tudo. E por ser um espaço infantil, procuro não interferir muito, por me achar já crescida. Digo “muito”, porque há um mínimo necessário e desejável, se não quisermos que a tarde termine num outro espaço igualmente infantil, mas muito menos convidativo – as urgências de pediatria. Procuro situar-me naquele meio termo entre a mãe que acautela cada passo, inlusive o mínimo desvio da fralda do infante, e aquela outra, refastelada no banco de jardim, de telemóvel acoplado à orelha. Tento ainda olhar para a minha filha como mais uma, igual a todos os outros, o que, devo dizer, não é fácil. É inevitável vermos um filho como único, diferente dos demais, por isso um empurrão sobre o nosso tem outro impacto. Se a vítima for outro, o responsável pela agressão é só mauzinho; se o alvo for o nosso, então o agressor é um alarve. É natural, pois claro. Como é natural – e agora vem a pior parte – que as nossas crianças assumam, para elas próprias, o estatuto especial que ocupam no nosso espírito, tomando a nossa mente pelo mundo inteiro. Quer dizer: levamo-las a acreditar e repetimos-lhes que são especiais, mas esquecemo-nos de um pormenor que, de tão importante, deveria passar de parênteses a sublinhado, dactilografado a bold, elevado à categoria de pormaior: para nós. Elas são especialíssimas para nós. Ponto.

Vem esta reflexão, com cheirinho de autocensura, a propósito de uns minutos de lazer que passei com ela nos baloiços, esta semana. Assim que pôs o lindo, delicado, perfeito pezinho no parque, a minha pré-adolescente, de dois anos e quase quatro meses, foi abalroada por um alarve da idade dela. Antes de fazer deflagrar o pranto, teve tempo de gritar:

- Bruto! Isso não se faz à princesa!

Pois é... quando passarem os egocêntricos dois anos, hei-de arranjar maneira de lhe explicar que aquele bruto é o príncipe de uma outra mãe.

Do avesso - narração - canto III

O meu Eu-Eu e o meu EU-Pro(f) nem sempre se encontram. Eu-Eu desculpo (quase) tudo, com relativa facilidade. Eu-Pro(f) não desculpo (quase) nada, limito-me a tolerar a incompetência e falta de profissionalismo gritantes. Que remédio...

terça-feira, março 20, 2007

Do avesso - narração - canto II

Hoje disse à J., lá na escola, que sou muito má amiga. Acreditou. Melhor para ela.

Do avesso - narração - canto I

Teleconversa:

- E estás aí sozinho?

- Não, está cá mais gente.

- Gento ou genta?


Concluo que me fez mal ver Otelo e digeri mal Dom Casmurro.

Do avesso - dedicatória

Aos que me amam, para que me perdoem. Aos que me odeiam, para que se consolem.

Do avesso - invocação

Se acharem que vos choco, avisem.

Do avesso - proposição

Porque todos temos um lado menos agradável, menos próprio, de costuras à vista e cores mais pardas.

segunda-feira, março 19, 2007

(Co)sleeping

Deitados. Eu, ela, ele. Da direita para a esquerda, exactamente por esta ordem. A mãe vai sussurrando mimos ao pai, como se o posto fronteiriço não estivesse ali. Mas está:

-Chiiiiiiiiiiiiiu!!! - impôs ela o ultimato, quase ordem de despejo.

A mãe ficou demasiado estupefacta para reagir. Ao pai ocorreu-lhe que o princípio da livre circulação resolveria o problema, e resolveu. Porque há muros que importa derrubar, outros basta transpor.

domingo, março 18, 2007

Ciclo vicioso

Hoje deixei a casa num brinco. Só não te digo se foi causa ou consequência...

sábado, março 17, 2007

Ai o gozo que dá...

Manter um blog secreto.

Traída pelo ciclo da História

Tive mesmo de agir. Resultado: uma semana, dois quilos a menos. A imagem explica. Não se entusiasmem, que os primeiros são sempre os mais fáceis de perder...

sábado, março 03, 2007

Ecco la Donna


Começo a observar demasiadas semelhanças entre mim e as mulheres de Rubens. Este post até podia ter por título "Descubra as Diferenças", se estivesse na predisposição de exibir as minhas formas e se o desafio não resultasse num fastidioso jogo, que não ia além dos dois ou trêss pontos discordantes.

Mas quem me conhece sabe que não sou moça de prantos nem lamentos. Solução. Urge a solução. Posso seguir pelo asfalto, ou tomar o caminho das pedras, que é como quem diz: da dieta e da ginástica. A regularidade do asfalto, por outro lado, diz-me que a História se repete, como se repetem as modas, os parâmetros de apreciação estética... Mas o século XVII já foi há tanto tempo... Quando é que a coisa dá a volta? Quando se completam os 360º? Quando voltarão os homens a babar perante a exuberância dos contornos e a plenitude das formas? OK, eu espero.

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Eu também, miúda... Eu também...

Cansada. Muito cansada de lhe repetir que "o pai foi buscar moedinhas"; que lhe vai dar um beijo à cama quando chegar, com ela já a dormir; que é melhor aceitar a bata para vestir, depressa, porque estamos atrasadas e há uns senhores que se vão zangar com a mãe se chegar tarde; que é melhor sair da janela porque o paizinho só vai chegar com a lua... Cansada de ouvir o eco da resposta que me deu ontem:

- Não quero moedinhas! Quero o pai!

terça-feira, fevereiro 20, 2007

Desktop



Eu sempre disse que não seria nunca destas coisas: foto dos miúdos na carteira, ambiente de trabalho do computador poluído de sorrisos geneticamente condicionados, canecas impressas com o "gosto de ti, mamã", mas mudam-se os tempos... e eis o desktop do meu PC de há dois anos a esta parte... Confesso que gostava de ver
o teu, e o teu, e o teu, e o teu, e o teu, e o teu, e o teu, e o teu... Só para poder rir também.

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

domingo, fevereiro 04, 2007

Convulsões febris - O Mito

O mito, exactamente. Tal como o definiu Pessoa: o nada que é tudo. Mas este conta com a agravante de ser tabu.

Atacando a questão e agarrando-a pelos cornos:
  1. A convulsão febril, desde que ocorra entre os 6 meses e os seis anos, é uma reacção natural do organismo humano;
  2. Ao contrário do que dizem os livros, a percentagem de crianças que sofre convulsões febris não ronda os 4%, esta é certamente muito superior. Caso contrário, como se justifica que mais de metade das mães com quem me relaciono tenham casos para contar, vividos na primeira pessoa? A percentagem revelada pelo livros só pode, por isso, ter por base os casos que chegam aos hospitais e/ou ao conhecimento médico;
  3. As convulsões febris na infância mantêm-se como um tabu que poucos admitem ter vivido. Não nos esqueçamos que este é um fenómeno envolto num misticismo cultural muito grande. Antigamente, uma convulsão, fosse ela de que natureza fosse (febril, epiléptica, ou outra) era vista como uma forma de possessão demoníaca, o que não ajudou nunca à sua divulgação;
  4. Uma convulsão febril nem sempre se manifesta da forma como estamos habituados a ouvir falar dela: com o corpo hirto, estrebuchando no chão, espumando da boca. Não é de descartar a hipótese de uma criança sofrer alguma vez na vida uma convulsão, sem que alguém junto a ela se aperceba disso. Recordo que a minha filha teve (?) uma convulsão sem qualquer alteração física que não fosse o queixo a tremer, muito discretamente, como se estivesse com frio! A apatia que se seguiu podia perfeitamente ter escapado à nossa atenção;
  5. Uma autêntica convulsão febril na infância não implica qualquer dano neurológico ou de outra natureza. O que nos deve preocupar é a possibilidade de uma aparente convulsão febril estar a mascarar uma convulsão de outra natureza, ligada, por exemplo, a uma meningite ou epilepsia;
  6. Não há uma temperatura que se possa considerar o limiar para uma criança poder fazer uma convulsão - há história de miúdos que iniciam o processo convulsivo com 37,5ºC de febre.

O que fazer quando se dá uma primeira "crise":

  1. Aguardar, com calma, que os tremores passem, assegurando simplesmente que a criança pode estrebuchar em segurança, isto é, sem nada ao seu alcance em que se possa magoar. Nunca colocar nada na boca da vítima nem tentar impedir-lhe os movimentos involuntários!
  2. Assim que possível, proceder ao arrefecimento da criança, por todos meios que estiverem ao nosso alcance - se a criança está já sob o efeito de um anti-pirético tomado recentemente, nada mais há a fazer senão despi-la completamente e iniciar o arrefecimento corporal directo, com pachos de água fria debaixo das axilas e nas virilhas e testa. Nestes casos está desaconselhada a imersão na banheira, uma vez que a apatia e falta de reflexos pode facilitar o afogamento. Desligar aquecimentos que possamos ter ligado em casa;
  3. Colocar a criança em posição lateral de segurança - muito importante caso se verifiquem vómitos;
  4. Ligar para a Linha Pediatria 24 (808 24 24 00) e descrever com todo o pormenor o sucedido. Este procedimento, embora possa parecer desnecessário para os mais precipitados que se queiram pôr logo a caminho do hospital, vai permitir um ganho de tempo muito considerável, uma vez que nos permite "saltar" a triagem no hospital;
  5. Se da linha de emergência nos disserem que vão enviar um fax para o hospital (o que é provável em caso de primeira convulsão febril) preparar a saída com a criança rumo ao hospital:
  • Levar a criança com pouca roupa e "descomplicada", para ser fácil despi-la e vesti-la (o que vai acontecer várias vezes ao longo de umas horas);
  • Levar uma manta para envolver a criança na passagem de umas salas para as outras no hospital e para poder recostá-la a dormitar quando possível;
  • Levar uma garrafinha/biberão de água - é natural que a criança tenha sede por causa da febre e do sobreaquecimento dos diversos espaços no hospital. Por outro lado, caso tenha de fazer análises à urina, terá mesmo de tomar água para ser possível uma colheita rápida - quanto menos tempo levar para fazer xixi, menos a criança se aborrece;
  • Levar uma embalagem grande de toalhetes - baba, ranho, vomitado, tudo se limpa;
  • Caso a criança tenha vomitado em consequência da convulsão, é muito prático tarnsportá-la ao hospital com um babete descartável, daqueles com bolsa-pelicano - amparam bem novos vómitos e são muito práticos de substituir.

6. Por último, ultrapassado o terramoto que representa sempre uma convulsão, quer seja a primeira, quer seja a vigésima, falem, falem sobre o assunto, com quem quer que esteja na disposição de vos ouvir - no trabalho, em casa, na paragem de autocarro, no blog, por mail... vão surpreender-se com a quantidade de convulsões que começam a revelar-se e vão, por isso, sentir-se menos sós. Obrigada a todos os que se aproximaram de mim ao longo daquela terrível semana, até hoje.

E pronto. Matei o mito. Derrubei o tabu.

AH3

Eis o nome do bicho. Cá em casa ninguém escapou (bem sei que o agregado compreende apenas três cabeças, muito dadas a beijos, abraços e embrulhanços de pés e mãos...)
Aqui ficam os sintomas que não deixam margem para dúvidas, quando cumulativos:
  • Tosse (primeiro seca e muito irritante, depois já com expectoração e igualmente desconcertante);
  • Febre a ultrapassar os valores normais de cada um dos atingidos - por cá, tanto a filha como o pai foram aos 40ºC, ela com direito a convulsão, ele com delírio e tudo!
  • Nariz pingão;
  • Dores generalizadas no corpo;
  • Eventual inflamação da garaganta, por força das desesperadas tentativas para expectorar e da tendência para dormir de boca aberta.

Desejo-vos sorte.

terça-feira, janeiro 30, 2007

Simplex

Tão simplex quanto isto:

Perdi o meu cartão de beneficiária da ADSE. Dirigi-me, portanto, aos respectivos serviços centrais, para tratar de uma segunda via do dito documento. Meia hora à espera (sim, a coisa correu muito bem!) e a pergunta vem de encontro à minha sinusite:

-Quer entrega prioritária?

Quis saber, obviamente o que era o “prioritário”, que isto das prioridades é como os chapéus do palerma. Ora, uma vez que o prioritário da indisposta senhora era sinónimo de instantâneo, nem pensei duas vezes, que naquela fila ninguém me apanhava mais!

- Então são dois euros – sentenciou.

Nisto, começo a ouvir as entranhas de uma impressora em rebuliço e eis que o resultado da digestão é, nem mais nem menos, a tal segunda via. Em folha corriqueira. Nada em papel de gramagem superior, uma folheca, pronto, como já era o seu mais directo ascendente – a famigerada primeira via.

Não sei se alcançam o absurdo do que se passou. Porque paguei dois euros, a funcinária do Ministério das Finanças accionou o lado direito do rato, com o cursor a atingir certeiro o ícon print. Se não tivesse pago a módica quantia, a senhora teria feito rigorosamente o mesmo gesto, naquele preciso instante, ou depois, nas minhas costas, com a diferença que teria eu de lá voltar, tirar nova senha, esperar e receber o cartão.

Roubar e ir preso é que é vergonhoso. Como a segunda condição não se verifica, não há problema nenhum. Simplex.

quinta-feira, janeiro 25, 2007

A vida em convulsão



Esta semana marcou de forma indelével as nossas vidas - a dela, a dele e a minha. A minha filha sofreu uma convulsão febril. Já tive de escrever e dizer isto alto, muitas vezes, até acreditar, eu própria. Os seus tremores atingiram-nos com a brutalidade de um marmoto, ela foi só o epicentro, porque os verdadeiros danos sofremo-los nós. Nunca tinha acontecido. Aliás, até ontem acreditei que não se tinha passado nada. Afinal de contas, o temível fenómeno das convulsões trazia-me à imaginação corpos hirtos estrebuchando, bocas espumando e olhos revirados. Ora, eu não vi nada disso. Tudo o que vi foi uma menina febril ao meu colo, bochechas ao rubro, tremendo discretamente, como alguém cheio de frio que tem vergonha de dizer que deixou o casaco em casa. Só isso. Ao longo de uns dez segundos, só isso. Nada naquele corpinho entrou em desalinho. Achámos por isso normal. Mas depois... depois veio o pânico: "R., tens frio, querida?" E nada. "R, olha para a mamã!" E nada. "Filhinha, onde está a mamã?!" E nada. "Minha vida, minha alma, onde está o papá??!!" E nada. "Meu amor!..." Nada. Aqueles olhos azuis pareciam atravessar-nos fantasmagóricos, perdidos no vazio. Era como se não nos visse nem ouvisse. Era a ausência absoluta marcando presença. Pois é... eu não sabia, mas uma convulsão febril pode ser isto, tão simplesmente isto. Sem grande aparato, estupidamente minimalista na sua manifestação. Menos mal para nós. Alguém decidiu poupar-nos aos "efeitos especiais". Só não me poupou ao calvário que se seguiu, que continuo a viver, no pânico de adormecer e não chegar a tempo de acudi-la. Ainda assim não chorei muito. Da última vez que adoeceu, com uma otite, exactamente há um ano, chorei a ponto de queimar a pele com o sal do pranto. Se calhar é assim mesmo - nós, mães, vamos secando as lágrimas como secamos o leite, gradualmente.

Gradualmente aceitei o que aconteceu. Escrevi dois mails, chorei no ombro de uma colega e abracei-o com quanta força tinha. Foi esta a terapia. Ela ficou bem logo a seguir, como se nada tivesse acontecido; ele garantiu-me que o sucedido não teria qualquer consequência; elas quiseram logo palmilhar quilómetros para me trazerem compras a casa, com filhos às costas e tudo - este é um mundo fantástico, agora sei! Obrigada às duas - e encontrei tanta afinidade no ombro que me suportou o peso, que já nem me atrevo a queixas. Apetece-me gritar ao megafone o nome do bicho, só para ver que já não tenho medo: CONVULSÃO! Agora baixinho, que ela já está a dormir e eu vou dormir também, sem fobias: CONVULSÃO!