segunda-feira, abril 30, 2007

Com os copos

Mas de olho na garrafa. Convém. Sobretudo desde que a lei obriga à menção, no rótulo do vinho, da presença de sulfitos. Andamos muito distraídos, ou já toda a gente reparou que agora as garrafas de branco ou tinto apresentam a frase "Contém sulfitos", a letras muito pequeninas?

Ora, tanto quanto consegui apurar, estes sulfitos não são senão um conservante, derivado do enxofre, adicionado ao vinho, com efeito anti-oxidante e com o poder de matar bactérias. Note-se que algumas marcas/produtores optam pela menção "Contém E220", o que vai dar rigorosamente ao mesmo. Segundo li, na verdade não há vinhos sem sulfitos, uma vez que esta é uma substância produzida naturalmente durante o processo de fermentação. Simplesmente, se a presença de sulfitos não se fica pelo que é natural e passa à qualidade de aditivo, então a sua presença no vinho tem de ser declarada no rótulo.

Até aqui, tudo bem. A coisa funciona às claras como eu gosto. Tanto é, que, em 1997, o então Presidente da Repúplica promulgou inclusivamente o Decreto-Lei n.º 159/97 de 24 de Junho, transpondo para a ordem jurídica nacional aquilo a que uma Directiva Europeia já obrigava. Acontece que o relambório legal não obriga as marcas/produtores de vinho a mencionarem a quantidade deste aditivo diluída nos seus néctares... Olha que chatice! Esqueceram-se! Oh... deixa lá. Que importância é que isso tem? Eles já são tão queridos ao fazerem o favor de nos informar das porcarias que juntam à reserva de Duas Quintas de 2003, para quê procurar mais cabelos em ovos, não é verdade? Não, não é verdade. Nem eles são uns queridos, nem é líquido que os ovos não possam ter cabelos! E a coisa é tanto mais gadelhuda e desgrenhada quanto é certo que esta porcaria da família do enxofre (como o Demo, ele próprio) é responsável por aquelas estranhas dores de cabeça que experimentamos com uns golinhos apenas, ou uma valente crise de asma para os consumidores mais sensíveis. Sabia disto? Não? Eh, pá! Então eles não avisaram?! Ah... pois não... esta parte não tem de vir no rótulo. Mas, pensando bem, a mensagem subliminar está lá, é tudo uma questão de morfologia - eles nunca lhes chamaram sulfinhos, pois não? O que lá está escrito é "sulfitos" e a gramática avisa: a conotação é depreciativa. Só não vê quem não quer.

Passear macacos

Ou bugiar, dar banho ao cão, morrer longe, dar uma volta ao bilhar grande, ou... brincar com as bonecas. Eis o diálogo que institui o novo lugar-comum:

O pai provoca-a, com cócegas. Ela, atiçada pelo gene do mau feitio, abespinhada a ponto de lhe saltarem os olhos, protesta:

- Aiii!

- Ó filha, o pai estava só a brincar! Credo! - esta fui eu, a pôr água fresquinha na fervura.

- O pai é um brincalhão! Está sempre a brincar com a R.inha! Vai brincar com as bonecas, papá!!! - lá está o gene.

Eu não disse de onde vem o gene, atenção! Mas que domina, domina.

Eu que nem sou de modas


Cedi ao sucedâneo da soca holandesa, não desfazendo na chanquinha minhota, que não encontrei em versão cool.

domingo, abril 29, 2007

Tenho uma Avozinha




Postiça, bem entendido, mas avozinha ainda assim. Não sei bem porquê, todos as fadas-madrinhas têm ar de avozinhas, serenas, sapientes, benévolas em todas as suas acções. Ora, em exercício de funções, de varinha na mão, entendeu ela que devia levar-me ao pódio, qual Cinderela maltrapilha, desgrenhada, com direito a charrette e sapatinho de cristal por uma noite. Vai daí, sem mais delongas, atirou-me para o colo a distinção dos Thinking Blogger Awards. Coisas de fada-madrinha, enfim... relevemos.

A Avozinha vai com certeza desculpar-me a irreverência, mas vou roubar-lhe a varinha, para premiar mais cinco, de acordo com o regulamento, que sugere aos distinguidos que elejam cinco blogs que nos façam PENSAR. Um grande plim, então, para estes senhores:

PEDRO_NUNES_NO_MUNDO - Porque este homem PENSA, de facto, e leva-nos à exaustão por nos obrigar a pensar com ele, por nos arrastar para causas que passam a ser nossas. Porque tem um coração muito maior que ele próprio, escondido por trás da irreverência que aparenta.

Mamãããã!!! - Porque, por mais profunda que seja a ferida, mesmo em carne viva, a lucidez de espírito pode sempre salvar-nos. Porque nos faz pensar a dor e acreditar que as cinzas não são o fim.

Pipáterra - Porque desmonta a cada dia o mito da paternidade distante, de mão-de-ferro. Porque, descaradamente, se assume como um homem, muito para lá do pai e do marido. Não, não é um babyblog, como a barrinha lá em cima pode fazer crer, essa é só mais um apontamento de humor.

Aos meus olhos... - Porque tantas vezes as palavras são demais. Porque é por palavras que pensamos, mas o rastilho podem ser fotos assim.

Flores & Companhia - Porque mesmo que praticamente extinto, gosto de quem trata MUITO BEM a nossa Língua. Porque a isenção intelectual também me faz pensar.

domingo, abril 22, 2007

Auto-estima - up, and up, and up...

Conversa dela com ela, enquanto faz uma espécie de flexões, estendida no chão:

Ela 1 - Para cima, para baixo... Para cima, para baixo... para cima, para baixo...

Ela 2 - Muito bem, muito bem!...

Ela 1 - Obrigada, obrigada...

sexta-feira, abril 20, 2007

Pragmatismo

Quanto ao género é feminino, quanto ao número plural. Não, não me enganei, porque são várias as que me enchem a caixinha de soluções fantásticas, das mais triviais às mais insólitas. Que ninguém duvide: onde há um problema, há uma solução, basta encontrar a mulher que a detém. Sugiro que lhes batam à porta:

RAQUEL
NADIASMCOSTINHASAMÃEDOSMIÚDOSJASMIMANÓNIMODASNÓDOAS DECEREJASUSANACOSTADIA-A-DIA(QUEEUNÃOFAÇOIDEIANENHUMADEQUEMPOSSASER)

quarta-feira, abril 18, 2007

Bond, my name´s Bond, James Bond *


Mas aquele não era 007. Dizia ele que era o Homem-Aranha, pendurado no escorrega, quando lhe perguntei:

- Como te chamas?

- Homem-Aranha. Fábio Homem-Aranha - respondeu, a empinar o queixo, lá do alto. Ficou logo claríssimo que "Homem-Aranha" não era cognome, alcunha, nem título comprado. Era antes parte autêntica e genuína da sua identidade. Não havia nada de postiço ou fictício no nome.

- E quantos anos tens, Fábio Homem-Aranha?

Então começou a dedilhar os anos, um bocado atrapalhado, até conseguir esfregar-me no nariz quatro dedos espetados a custo - eram, portanto, quatro aninhos recentes.

Homem Aranha, pois claro. E eu só queria a ingenuidade dele e seria então a Mulher-Maravilha. Maravilha mesmo: 0% celulite, soutien nº 38, 60 kg distribuídos por 1,80 m... Como foi que disse? Sem morada certa? Sem o meu homem? Made in USA? Ok... Fico com a celulite... Como?! Ainda assim mantenho a abstinência e a bandeira estrelada, às riscas?! Pronto... esqueçam lá o 38... Ainda assim não dá para trocar pernas e braços debaixo do edredon?! Mulher. Ponto. Abro mão do "Maravilha". Vendo bem, até ficava um bocado piroso. E benditos quatro anos...



* Este é para ti, já que não posso fazer mais.

terça-feira, abril 17, 2007

Babyblogs

Têm a sua função, pois claro. Mas no masculino têm um gosto especial. Este e este já me puseram a rir à gargalhada. É a monotonia do X salva pelo factor Y. São sobretudo muito mais que babyblogs, porque nem só de babies vive o Homem.

A menina desculpe...

Mas importa-se de deixar os sacos por minha conta?

Isto para o caso das operadoras de caixa dos hiper, super, minimercados que frequento virem aqui ao meu blog.

Clausura

Hoje, aos microfones da TSF, um dos arquitectos mentores das tertúlias "Barulho na Casa" dizia que as discussões que programavam serviam para abrir as pessoas ao mundo, ou o mundo às pessoas, porque, segundo ele, quando gostamos e nos sentimos muito bem em nossa casa, ou amamos mais que tudo uma mulher, temos tendência para nos fecharmos no nosso paraíso, encantados pelo objecto da nossa paixão, e caímos numa espécie de solidão inadvertida, mas alimentada. Entendi muito bem o que quis dizer. Conheço muito bem a experiência. E pergunto-me: o inverso, o escancarar das nossas portas e janelas ao mundo, indiciará a chama apagada, a ausência de paixão?

Blogs? Eu não falei em blogs... Alguém falou em blogs?

A alma das coisas

Para já de uma chucha, em queda quase livre, falésia abaixo. Juro que hoje sonhei com uma chucha, a mesma que ela deixou cair, incrédula, lá do alto da ravina. Era das poucas que restavam. A marca já não as fabrica assim, em latex, de forma que estão em acelerado processo de extinção, primeiro nas lojas e agora cá em casa. Mas não foi por isso que me transtornou tanto a visão da chupeta ali tão perto, suspensa do penhasco, mas para todos os efeitos inacessível. Foi por ser um pedaço dela, da minha filha, que ali ficava, sem hipótese de resgate. O sol havia de declinar, a noite havia de chegar, a chuva havia de cair, o vento frio havia de soprar... e um pedaço da minha filha ali. A imagem custou-me tanto, que o meu espírito regrediu uns anos e, infantilmente, passou-me pela cabeça gritar por ajuda – viessem os bombeiros, o mais sofisticado corpo de intervenção, o Alouette da Força Aérea, um avião Canader – que aquilo era muito mais importante que a mata nacional a arder! Custa-me tanto, ainda agora, mais de vinte e quatro horas passadas, pensar naquela chucha que ali está... Estará? Segurei-a com força contra mim e desviei-lhe o olhar do abismo, como se quisesse poupá-la ao horrível espectáculo de um cadáver mutilado. Expliquei-lhe, naquele instante, que a chucha era agora de uma gaivota que a viria buscar. Tomara... Latex em escudo azul, no bico de uma gaivota, sobrevoando o Sítio, na Nazaré... era o sonho que queria para esta noite, porque, por mais estúpido que pareça, está a doer-me aquele bocadinho de filha ali, lá, tão longe, tão fundo, tão frio, tão só.

quinta-feira, abril 12, 2007

Finalista

Não, não é ao estatuto de menina de creche que me refiro, se bem que podia ser... Sim, a miúda é finalista - para o ano que vem já é garota de jardim infantil (!!!) Mas, para já, a ideia que vou digerindo com todo o gosto é esta de ela ser finalista da varicela. Ok, ok, isto é já uma ideia fixa um bocado enjoativa, eu sei, mas quem passou CINCO dias com ela em casa, em regime de clausura, fui eu! Portanto, se me dão licença - que dão de certeza, porque o blog é meu... - adeus, varicela-zoster, até NUNCA MAIS!

segunda-feira, abril 09, 2007

As minhas férias por umas pintas


O meu blog dominado pela varicela? Nããã...


Varicela - dia 7

Liguei ao pediatra a ver se podia observá-la e dar luz verde para o regresso ao colégio. Não, hoje não é possível. Só amanhã. Acontece que amanhã começo eu a trabalhar. Amanhã lá vai ela para a avó. Não regresso ao trabalho nas melhores condições. Achava que voltava de baterias recarregadas, depois de uns dias mesmo só para mim, com a miúda no colégio e eu a pôr a minha vida em ordem. Nada de nada. As minhas férias dominadas pela varicela transtornaram-me a vida e eu já só penso em voltar às aulas para descansar, finalmente.

Varicela - dia 6

Só a zona da fralda continua a dar trabalho, mínimo, mas dá. Como está sempre coberta, as borbulhas vão macerando e não conseguem secar como as outras. Até já tentei aproveitar a boleia da varicela para o desfralde definitivo, mas ao fim de dois xixis no tapete, um cocó na belíssima lingerie do Winnie de Pooh e novo xixi, em cascata, vinda lá do alto da cadeira de refeição, desisti. Quer dizer, suspendi o processo.

sábado, abril 07, 2007

Varicela - dia 5

Pronto. Confesso que ontem exagerei um bocadinho. O pior já passou, é verdade que nunca teve febre, é verdade que teve pouquíssimas borbulhas. Só não escapou à comichão, mas também foi só uma noite (INTEIRA!!!). Agora está tudo a secar e eu já vejo a bandeirinha xadrez, branca e preta, ali mesmo, no final da recta. Uf!...

sexta-feira, abril 06, 2007

Saudades da saudade

Eram sextas-feiras santas, sonhadas, desejadas. Caminhávamos os quatro, sempre adiante, embora às vezes um pouco baralhados pela geometria das transversais – é nesta, não é? Ou é só na próxima? A avenida sofria, sofre ainda hoje, de uma monotonia matemática. Mas a fábrica das amêndoas lá estava, e nós acabávamos sempre por dar com ela. Enquanto esperávamos pela nossa vez, os meus olhos iam lambendo chantilly, doce de ovos e glacé pelas vitrinas refrigeradas. Até que a minha mãe começava: “cento e cinquenta de tipo francês... o mesmo de molar... o mesmo de chocolate... também cento e cinquenta de Coimbra...” Depois fazíamos o caminho de regresso a casa, roidinhos pela saudade que provocavam aqueles saquinhos com atilhos aparentemente toscos. Era tão difícil abri-los sem nos denunciarmos... e depois da trabalheira para conseguir afrouxar o laço, ainda tínhamos o supremo azar de topar logo com as molares.. Blherrrrrrrc... As de chocolate é que eram! Até fazíamos o sacrifício de lhes desgastar a carapaça de açúcar, só para lhes atingirmos o coração! As de tipo francês já não nos deixavam tão felizes, mas enfim... íamos delapidando o açúcar colorido às trincadinhas cirúrgicas e depois cuspíamos a amêndoa. As de Coimbra vinham em terceiro lugar do ranking, não por snobismo a tender para Paris, mas porque tinham umas formas sempre muita mal paridas, que nos feriam o céu da boca.

Era o verdadeiro prazer sem espinhas, quando o meu pai resolvia tratar da parte dos atilhos, perante a censura incrédula da minha mãe: “Parece impossível! Em dia de jejum!... Tu não tens vergonha?!” O meu pai respondia com um franzir de olhos infantil e com a boca entupida ao estilo francês.

Tenho tantas saudades da saudade que acordava comigo naquelas santas sextas-feiras, de pecadilhos anunciados...

Varicela - dia 4

Faz de conta que ontem não disse nada, ok? Sexta-feira Santa? E alguém que leve a Idade do Gelo ao micro-ondas, que eu já não aguento mais!

Varicela - dia 3

A coisa corre de feição. Nada de febre, borbulhas poucas, comichão zero. Banhos frequentes com o gel D'Aveia Sept e muita besuntadela com Pruriced Gel. Já há vesículas a secar. Ela acha que ninguém lhe pode levantar a voz porque tem bauicela. Maravilha.

quarta-feira, abril 04, 2007

Varicela - dia 2

Começou ontem, por uma única bolhinha. Hoje já vai aí em vinte, bastante discretas. Nada de queixas nem febre. So far... Isto é coisa para quê?... Quatro dias e está despachado, não é verdade?

Quem é a coisa mais linda, mais doce, mais fofa, mais querida, quem é?

Uma gorda com varicela nas férias de Páscoa dos pais. Eternamente agradecidos. E tem cuidado com o que pedes, que Deus pode atender-te.

domingo, abril 01, 2007

Directas

Em consílio familiar, na cama dos pais, a desperdiçar o domingo de sol que entrava às riscas quarto adentro:

- És feliz, filha?

- Sim, feliz. E tu, mamã, és feliz?

- Sim, filha, sou feliz.

- E tu, papá, és feliz?

- Sim, Banica, o pai é feliz.

E a felicidade que lhe iluminou a cara anulou a luz listrada que galgava lençóis. Sem sombra de dúvida, entende o conceito. Sem sombra de dúvida, é FELIZ.