quinta-feira, maio 31, 2007

Super, hiper, mega, extra...

E os prefixos todos não chegam. A educadora começou um bocadinho para o atrapalhado:

- Sabe... bem... estivemos a pesá-los todos hoje... por causa das cadeiras do autocarro, na sexta-feira... a R. ... Bem... A R. ... A R. é a única criança NA CRECHE INTEIRA que já não conseguimos sentar nas cadeiras, restam os assentos elevatórios... São 18 kg, sabe?...

- Sei.

E como não vai nada em assento elevatório, que a miúda ainda não tem os 22kg tidos como limite mínimo para a dita solução, lá foi a mãe à procura da Moby. Pronto.

Mas não era de nada disto que queria falar. Foi pretexto. Toda a gente sabe que eu nunca fui muito de vir para aqui embandeirar em arco com perímetros cefálicos, pesos, alturas ou medidas do tornozelo. É só para bradar que estou numa excitação que não contenho: amanhã vou dizer-lhe adeus, à partida para a praia! Eu, a mãe, completamente frenética, de mãos espalmadas no vidro, quiçá borrifando a saída de emergência de cuspidelas, enquanto faço caretas e graçolas para ela... É assim que me imagino. É a primeiríssima vez que sai com o colégio.

A MOCHILA, CÉUS! A MOCHILA! Será que me esqueço de alguma coisa? Será que vai muito pesada? Será que ela se orienta com o que lhe mando? Onde ponho as bolachas? Dentro podem não vê-las; na bolsa de fora, ela pode esmigalhá-las quando se encostar... A água chega? Será que vêem o protector?! Ai a pele dela! Se calhar ia melhor preso por um cordel a pender para fora da mochila...

ADEUS, FILHA! ADEUS! BOA VIAGEM! E lá ficará o vidro todo cuspido.

domingo, maio 20, 2007

34 x 2

Não, o resultado não é 68. O resultado anda à volta de dois irmãos, com a mesma idade nos próximos quinze dias. Eu com 34, ele também. Volto um dia ao assunto, nem por isso muito feliz. Hoje não me apetece.

PUAAAAAAAAARTOOOOOOO!!!

Não, não é a minha cor, mas é uma das cores cá de casa. Também não é a dela, que ela ainda é transparente.

sábado, maio 19, 2007

Quando for grande...

Em miúda quis ser retroseira. Merceeira também não ia mal. Era o deslumbramento que adivinhava diante da infinidade de botões, molas, fitas e carrinhos de linhas, de todas as cores do arco-íris, muito arrumadinhos em caixas que trepavam prateleiras... Era a sedução dos pacotes, pacotões, pacotinhos e pacotilhas, a juntar ao fascínio da caixa registadora, cheiinha de botões e barulhinhos (do tlim ao tlão, passando pelo toc e pelo scrach, estava lá tudo). Depois quis ainda ser peixeira... é que não havia nada comparável à submersão permanente, chafurdando, chafurdando, até ver os sargos bem amanhados.
Se fosse hoje, queria ser enóloga. É que tem tanta poesia...
«Cor granada de média concentração com suave violáceo no menisco. A retina capta-lhe um ligeiro gaseificado e muitas partículas em suspensão que, para nosso contentamento, se desvanecem com a permanência no copo. Ligeiro desprendimento de álcool num aroma quente, quase enternecedor, a puxar ao estilo Novo Mundo, com uma doçura frutada que não chega a ser enjoativa: suave couro bem coberto pelo cunho silvestre, a lembrar framboesa e groselha em compota, sugestões de ameixa seca, bombom de cereja e algum vegetal. Mais-valia aromática produzida pela madeira a conferir-lhe a nuance abaunilhada, o apontamento achocolatado e a cremosidade das notas de "expresso". E a constante sensação de haver nele qualquer coisa a lembrar terra seca e poeirenta. Será um mero condicionamento psicológico induzido pelo rótulo? Fiquei na dúvida. Ataque redondo, com razoável volume e, malgrado o vestígio do álcool, conseguindo preservar uma textura suave. Fruto e vegetal a combinarem-se numa evolução que, sem esconder uma estrutura relativamente simples, consegue manter alguma finura. Menos refrescante do que seria desejável com a correcção ácida a marcar presença na transição para um final com média persistência, bem amparado pela estrutura de taninos. Fiel ao receituário da edição anterior, embora o "nervosismo" do álcool prejudique a harmonia deste 2003. Mas nem por isso deixará de surpreender muitos consumidores, continuando a justificar plenamente a sua opção como vinho para o quotidiano. Perder este Terras do Pó? Nem pó!»

Qual Mia Couto....

O balão do João
Sobe, sobe pelo ar,
Está feliz o petiz
A cantarolar.

Mas o vento a soprar
Leva o balão pelo ar,
Fica, então, o João
A chorapingar.


Qual Mia Couto, tal figlia mia.

terça-feira, maio 15, 2007

msn

Há quem adormeça on line, não é verdade?

Estereótipos

Que na cabeça de uma criança de dois anos não são mais que referências, modelos, matrizes. Seja como for, odeio-os. Como odeio a mania de pôr a mãe a dormir cada vez que pega na "Família". "A Família" é um conjunto de mobiliário, acessórios, um adulto-macho, um adulto-fêmea e um bebé-anjo, que ela tem para ali, dentro de um saco. Gosta de compor cenas do quotidiano com aquilo, é natural. E a mãe de plástico invariavelmente estendida na cama a dormir, porque está muito canxada, é natural? Só não vos digo que lugar ocupa o pai nestas brincadeiras... O uso intensivo do rato provoca tendinite. Poupo-vos.

sábado, maio 12, 2007

Carta à prima Vera...

...Uma vez que o Pai Natal nos deixa órfãos todo o ano, para regressar só em Dezembro.




E para bom entendedor, um clique basta.

sexta-feira, maio 11, 2007

Mãos de lição cem, pés de lição zero

As mãos peganhentas, os pés pesados.

Terminaram, finalmente, as comemorações da centésima lição de Língua Portuguesa em cada uma das minhas turmas. Ninguém imagina o desgaste. Mas sou incapaz de lhes negar estes "festejos". "Festejos" com muitas aspas, muitas - a ideia que eles têm destas comemorações é muita diversa, dependendo, sobretudo, do nível de ensino de que estamos a falar. Por exemplo, para os miúdos do 7º ano, lição 100, com os zeros todos, tem de ter comes e bebes, mais comes que bebes, mas a dupla não pode faltar. Em contrapartida, para os alunos de 9º ano a coisa não tem de passar forçosamente pelo repasto, tanto que lhes propus a declamação de um poema de Pessoa, lá fora, junto ao campo de futebol, e eles aceitaram lindamente, e fizeram uma espécie de dramatização engraçadíssima, com um mostrengo de voz grossa e um homem do leme à beira da apoplexia. Foi uma aula fantástica!

Portanto, o que me cai mesmo mal são aquelas raves do 7º ano... Ele é sumos com gás a mais e copo a menos; ele é o bolo de bolacha que a cota fez, com mais natas que Maria; ele é gomas de boca em boca, que afinal este sabor a coca-cola já passou de prazo há bué; ele é Kizomba, Kuduro e Funaná, do mais fixe que há, tão piratas, tão piratas, que nem nas Caraíbas...

Enfim... servir o bolo ainda servi, comê-lo tive de comer, mas dançar Kuduro???!!! As mãos pegajosas ainda vá... afinal de contas, é a lição 100... Mas, por favor, deixem-me os pezinhos no chão, que lá nisso do Kuduro vou na lição zero!

Correu bem.

quarta-feira, maio 09, 2007

Ou sim, ou sopas

Sopas! Eu cá é mais sopas, definitivamente. E só gostava que a americanada toda me ouvisse bradar: EU CÁ É MAIS SOOOOPAAAASSSSS!!!

Quer dizer... um belo dia tecem elogios rasgados à chamada "dieta mediterrânica", com as obrigatórias saladinhas fartas, regadas com o seu fio de azeite; o pão dito "de segunda" (que para mim virá sempre em primeiro); o modesto copo de vinho; os ensopadinhos de cereais (vulgo papas); o peixe gordo ainda com cheiro a mar (antes mesmo de se renderem às virtudes do omega3); e, lá está, A SOPA! No dia seguinte, arranjam forma de tramar o mérito do velho continente e toca de difamar a sopa, desvirtuá-la, deixá-la reduzida ao caldo desenxabido, a fazer lembrar o que resta da água suja, depois de lavadas as chávenas de café! E nós, meninos UE, com o complexo da reverência, lá baixamos o nariz e ficamos com o rabinho a descoberto, enquanto vamos repetindo"Amen, uncle Sam"! Mas afinal que fantochada é esta de nos virem agora impingir a ideia de que a sopinha é muito boa para a saúde, sim, senhor, mas sem batata?!Ah! E já agora, eliminem a abóbora e a cenoura que também não fazem lá falta nenhuma! Certo. Ficamos, portanto, com a sopinha made in USA, preparada com uma base de... de... de... Eh, pá! De... de... de... Agora de repente não me ocorre nada para a base desta sopa... Ah! Pois claro! Que má vontade a minha! Rabanetes! Ora aí está o ingrediente que, cozido e bem passado, constitui a base ideal de qualquer sopa! Não é apreciador do tubérculo? Não há problema nenhum! Arranja-se já uma ramazinha de aipo que faz perfeitamente a vez! Também não é chegado ao aroma? Hmmm... Nabiça! Vai à varinha mágica e, sem mais nada, faz a base perfeita de qualquer sopa! Claro que só uma categoria de pessoas pode atingir o ridículo destas minhas sugestões - todos aqueles que alguma vez na vida já se entregaram à tarefa de fazer uma sopa. Quem percebe realmente de sopas (que não são certamente os senhores fast food nem os médicos/nutricionistas portugueses que lhes engoliram as teorias furadas!) sabe que não há nada mais elementar e óbvio que a receita de uma sopa, a saber: junte-se a uma boa base tudo o que nos vier à cabeça ou sobrar no frigorífico. E é justamente nestes últimos ingredientes (que devem ficar inteiros na sopa) que está o segredo do equilíbrio nutricional da mesma! Explicando: é claro que a base de uma sopa (isto é, a parte que se apresenta em estado líquido no nosso prato) pode ser mais ou menos carregada de batata. Idealmente, a batata, a cenoua e a abóbora devem aparecer naquela dose estritamente suficiente para garantir a homogeneidade do puré. O resto do "corpo" desta base deve ser conseguido à custa da cebola, do nabo, do alho, do alho francês, da courgete, da couve-flor, dos bróculos, etc. Mas eliminar radicalmente aqueles três ingredientes seria um disparate de calibre! Repare-se: a base de uma sopa, mesmo que leve bastante batata, abóbora e cenoura, é consumida em quantidades mínimas se, nesse constituínte líquido, pusermos a boiar uma série de outros elementos inteiros. Façam a experiência: cozinhem a sopa que tenho ali para o meu jantar, sirvam-na num prato fundo e retirem-lhe minuciosamente, com um garfo, os bocadões de feijão verde de partir e courgete que lhe acrescentei inteiros. Hão-de ver que ficam com uma quantidade ridícula de puré de legumes no fundo do prato! Ora, o mal de qualquer dieta jamais pode estar naquela penúria alaranjada, muito pelo contrário - a batata, a cenoura e a abóbora são importantes, em quantidades moderadas, e deixam-nos uma sensação de saciedade que nos leva a comer menos a seguir! Onde está, muitas vezes, o erro nutricional é no facto de confundirmos purés com sopas, propriamente ditas. Claro que, nesse caso, fartamo-nos de engolir batata, cenoura e abóbora! O que se quer são as chamadas sopas à lavrador (hmmmmmm!...) - a base reduzida ao mínimo (se puder ser só água, óptimo!) e os bocadões de tudo e mais alguma coisa acrescentados ao máximo, boiando, nadando e afogando-se, felizes e contentes, no nosso prato - incluíndo bocadões de abóbora e cenoura, por que não?! Outro erro crasso está tantas, tantas vezes no azeite que juntamos à sopa ainda ao lume, ou já depois de pronta, quando sabemos que teremos mais tarde de a requentar. O azeite é ingrediente fundamental de qualquer sopa, mas sempre a cru e usado com toda a parcimónia.


Resumindo, fica o conselho para o lado de lá do oceano: nunca tive a pretensão de os ensinar a fazer hot dogs, pois não? Então, deixem as sopas connosco, ok?

segunda-feira, maio 07, 2007

Todo o anacronismo tem o seu tempo - a prova

E de repente... a fralda tornou-se anacrónica. Nunca pede, nem pediu alguma vez, para fazer xixi ou cocó - orienta-se sozinha e tem um ataque de fúria se tentamos ajudar. De forma que, de um momento para o outro, sem mais nem aquela, dou com a minha filha a ir buscar o bacio, fazer o que tem a fazer, exibir a sua obra diante dos olhos de quem a queira apreciar (e temos de dizer que sim, que queremos!), deitar o produto do seu esforço na sanita, lavar o bacio, subir à banqueta para lavar as mãos no lavatório e, por fim, fingir que limpa as mãos à toalha.

A verdade entra-me pelos olhos dentro - Dr. Michel Cohen é que sabe. O seu a seu dono - Marco Bellini está para a massa e para o molho, como Michel Cohen está para as crianças e seus pais:

"No matter what you may have heard or read, toilet training is unnecessary."

Por falar nele, agradeço ao primeiro que saiba da edição desta BÍBLIA, em português, o favor de me avisar. Espero mais uns... dois meses. Findo o prazo atiro-me mesmo à edição em inglês.

BOOOOOOOOOOM DIIIIIIIAAAA!!!!

Voltaram! É só para avisar.

domingo, maio 06, 2007

Dia de Quem?

Só agora, há pouquinho, consegui reaver a prenda que me ofereceu - um colar, lindo, lindo, pintado por ela no colégio. Ofereceu-mo, mas expropriou-o de imediato. Foi um "muito obrigada, filha!" que valeu por cinco segundos apenas. Tudo na vida é efémero, eu sei, mas não era preciso tanto.