Foram estes os termos que me ficaram entalados na garganta. Não saíram. Ficaram entalados. Que pena tenho eu de não ser uma moça assim... mais... dada ao vernáculo.
Já aqui disse uma vez que não há coisa que me deixe mais baratinada do que a falta de sentido prático. Não gosto de gente que insiste em embrulhar-se-me aos pés! Apraz-me o tão afamado "desenrascanso" português. Irrita-me, até à insanidade, aquela figura a que o P. me ensinou a chamar de morcão. Então quando a morcandade resolve apresentar-se disfarçada de eficiência, eu entro em transe!
Foi assim: Com a R. encavalitada no carrinho do hipermercado, vai não vai para atirar-se lá de cima, já a atingir a fase crítica das sete da tarde, fiz as compras em total infracção das mais elementares regras de circulação mercantil - velocidade muito para lá de excessiva, travagens bruscas junto do arroz que ia escapando, inversões de marcha na curva do bacalhau, enfim... Chegada à caixa que me pareceu ter menos gente - não aprendo! - comecei a dispor as compras sobre o tapete. Nisto ouço:
- Olá, pequenininha! Tão queridinha! - com a R. já a fuzilá-la com os olhos - Tem soninho?
Nesta fase eu mantinha o sorriso. A menina da caixa continuava:
- Ai que sainha tão bonitinha! Queres mexer nos botõezinhos?
Aqui, a R. arremessou-lhe o equivalente a um rosnar canino. Eu mantinha-me impassível, já a levantar fervura por dentro, e com o sorriso a amarelar. Não, definitivamente a menina da caixa não entendia que eu estava cheia de pressa, que a R. estava prestes a entornar o caldo, e que, no meio de tanta ineficiência, aquela forma de bajular o cliente - com inhos, inhas, itos e itas por todo o lado - me estava a deixar em ponto de caramelo! A Pirralha desatou num pranto torrencial e crescente. A indolência personificada, no seu grau diminutivo, deixou-se finalmente impressionar mas manteve a estratégia de aproximação:
- A senhora não se importa que registe o pacotinho de arrozinho desta senhora - juro que era assim que ela falava! - e já faço a sua contita?
Anuí com a cabeça, já sem sorrir, acreditando que quem já tinha chegado até ali já não tinha mais nada para ver. ERRADO! Assim que as minhas compras começaram a rolar em direcção à caixa, a imbecilidade volta à carga:
- A pequinininha vai pagar as comprinhas da mãezinha com cartãozinho, vai?
Para atalhar conversa, pus-lhe o cartão multibanco à frente do nariz. De ar muito solícito, atira-me com a última:
- Licencinha - enquanto pegava no cartão - Ora... são 47 eurinhos!
Socorro! Tudo isto em câmara lenta como na TV, muito lenta, com as lágrimas da R. a condimentarem a cena.
- Adeusinho! - porque um filme de terror é assim mesmo.
- [título deste post] - repeti eu para dentro, muitas vezes seguidas, enquanto não me vi no parque de estacionamento.
19 comentários:
AHAHAHAHAHAHA!!
Desculpa, mas tenho q me rir! é que as tuas descrições são assim "uma coisa".
Agora, vai ali á cozinha, bebe um copinho de água.
Amanhã qdo acordares, não vai parecer assim tão mau... ;p
(é sempre assim...)
que feitiozinho tão mauzinho... coitadinha da empregadita que só queria alegrar o diazinho de quem atendia...
mas...
eu também sou assim! irrito-me tanto com o "cafezinho", o "chazinho quentinho", o "copinho de água", o "o bolinho de arroz", o "xixizinho"... curiosamente a "merdinha" não me irrita
O que transcende a minha capacidade de paciência-para-estas-coisas é, em lojas de roupa, o "calcinha", o "meiinha", o "cuequinha" e o "calçãozinho".
Muito bom! Ahahahahaahah.
Beijinhos, inhos, inhos.
Ui, o que essas "merdinhas" me irritam... mas eu acho que lhe tinha dito ironicamente que 'estava com pressinha para evitar que a minha filhinha fizesse ali uma birrinha'... detesto essas coisas, hehe!
Essas coisas tiram-me do sério...
lololol(zinho)
Agora podes aproveitar para escrever mais uns quantos destes que eu já me posso rir à vontadinha!!!
Beijos
lol
Granda croma!!!
:D
hahahahahah
devias tê-la mandado à merdinha, sim!!
ai q se voltas a encontar essa "mocinha"...
ó lindinha não te enerves, vá lá calminha!
Hheheheheheheh!
Credo é de levar qualquer um a pensar em apertar-lhe o pescoçinho.
hhehehhehhehe
AI, que eu também não tenho paciência para esses inhos, inhas e afins!
Bjs
ahahahahahahahah
Temos que aturar com cada uma!!!
Nem sei como te conseguiste conter!!
Adeusinho!!
heheh, nos dias em que os minutos nos parecem horas, encontramos sempre alguem assim. No entanto, não é normal encontrarmos uma simpatia dessas nos hipermercados heheh
:) brutal de tão genial. sem diminutivos q com este post à mente só me chegam os aumentativos.
E tu não rosnaste mesmo? Assim só um barulhinho pequenininho. Estas cenas azem sair o pior que há em mim - e sinto-me tão aliviadinha depois...
ehehehehe o que eu me ri...realmente é preciso pachorra! Mas até te gabo a paciência!! Com a R. a chorar e tudo! Eu nestas coisas tb "rosno" para dentro...mas acho que só perco com isso, acho que devia aprender a ladrar :P
Mas ainda gostava de perceber pq é que normalmente encontro nas caixas dois tipos de pessoas ...estas com muitos "inhos" e muito chatinhas e outras muito trombudas que nem "bom dia", nem "obrigado" nem nada (isto tb me tira do sério!
bjs
Lipa
Oh!.. coitadinha...
Tem piada, em escrita utilizo abundantemente estes inhos e inhas, especialmente quando escrevo sobre o Benjamimzinho. Admito-o. Loool. Já quando se trata do carrinho do Supermercado, uso um termo mais prático. Não tão convencional, como o "ir de carrinho".
Mas, aparte do exagero, ele há pessoas assim infantis, ele há, sim.
:O)))
visito pla 1ºvez o teu blog e dou com este post.. o q me ri a imaginar a cena mas de certeza q se fosse comigo tb nao achava piada nenhuma..hoje em dia não existe meio-termo ou saõ demasiado chatas de tanta simpatia ou são a coisiNHA mais antipática
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