Leio perplexa a resenha de equívocos com que a APDC pretende manter-nos a todos equivocados. Perplexa entre a hipocrisia, a ignorância, o conservadorismo e o paternalismo serôdio. Não sei mesmo qual dos quatro terá mais peso. De uma coisa estou certa: estes são argumentos que só podem vir da cabeça de homens incapazes daquela assombrosa competência de que são investidas todas as mulheres assim que a maternidade as consome em cuidados permanentes – falo da consecução de duas, três e quatro tarefas em simultâneo, SETE dias por semana, sem tréguas caprichosas que lhes poupem na agenda um domingo ou feriado, porque todo o dia é dia, e se a sesta do filho coincidir com a melhor hora para ir às compras justamente no domingo, pois será mesmo no Dia do Senhor que a senhora da casa vai ao hipermercado, enquanto o senhor fica com as crianças. Compras no hipermercado em dias úteis?! A que horas?! Úteis, mas não tanto… Saberá a APDC entre que horas se estende a rotina laboral e escolar da maioria dos agregados familiares portugueses? É que a ideia de sairmos de casa às cinco da manhã ou às onze da noite para uma gincana de carrinho de compras não me parece muito razoável nem exequível…
Terá a APDC entendido, a este propósito, que era agora ou nunca – que não podia deixar passar a oportunidade de fazer justiça à sigla e resolveu tomar para si as dores de todo o consumidor português, usurpando-lhe a agenda e a contabilidade domésticas? - “Ai, ai, ai, ai ai! Qu’é lá isso? A torrar euros ao domingo à tarde, no consumo cavalar, com a prestação da casa em atraso e o condomínio por pagar? Acabou-se o domingo agarrado ao carrinho! E se não entras nos eixos, ficas só com a segunda-feira, das 9h00 às 10h00 e das 15h00 às 16h00, para ires às compras gastar as senhas que a amiga APDC entrega no domicílio à sexta à tarde!”
“A questão é fracturante”. Pois claro que é fracturante. Quantos haverá que não têm a minha vida? Reformados, desempregados, abonados que nasceram com o rabinho virado para a lua… esses poderão sempre ir abastecer a despensa à terça, lá pelas 10h00, ou não a abastecem sequer, feliz ou infelizmente… Lojas de conveniência? Comércio electrónico? Ora aí está o que é. Escapava-me. Pois claro: a classe média e média-alta das grandes áreas metropolitanas abastece sentadinha diante do monitor, paga taxas de entrega e sujeita-se aos preços agravados pela inconveniência de recorrer à loja de conveniência a horas e dias menos próprios; os restantes, aspirantes a consumidores de pleno direito, esperam pela segunda-feira ou que o feriado passe, e para a próxima já aprenderam que desopilar ou ocupar-se de si e dos seus ao sábado ou ao domingo de manhã tem os seus custos, e que quem diz quando a hora é de ócio ou de labuta é a APDC, a ACOP, a Conferência Episcopal Portuguesa, a Confederação do Comércio e Serviços de Portugal, a Associação de Comerciantes do Porto, a UGT, o Sindicato dos Trabalhadores do Comércio e Serviços de Portugal, entre outros, que não o consumidor.
Quanto ao comércio tradicional, lamento por quem perdeu o comboio e não se soube afirmar no mercado como mais-valia de carácter distintivo em relação à área do retalho nas grandes superfícies. Se, num domingo à tarde, topar com as portas do hipermercado fechadas, não me resta alternativa senão o transtorno de lá voltar na segunda-feira. O comércio tradicional não se constitui nunca como alternativa, neste caso. No entanto, se quiser comprar determinado produto ou serviço que só aquela lojinha de esquina tem para mim, com toda a certeza arranjo uns minutos para dar lá um salto e lá voltarei uma, duas, duzentas vezes, enquanto me reservar o que mais ninguém tem, servido como mais ninguém sabe, pela mão de quem trato pelo nome.
Terá a APDC entendido, a este propósito, que era agora ou nunca – que não podia deixar passar a oportunidade de fazer justiça à sigla e resolveu tomar para si as dores de todo o consumidor português, usurpando-lhe a agenda e a contabilidade domésticas? - “Ai, ai, ai, ai ai! Qu’é lá isso? A torrar euros ao domingo à tarde, no consumo cavalar, com a prestação da casa em atraso e o condomínio por pagar? Acabou-se o domingo agarrado ao carrinho! E se não entras nos eixos, ficas só com a segunda-feira, das 9h00 às 10h00 e das 15h00 às 16h00, para ires às compras gastar as senhas que a amiga APDC entrega no domicílio à sexta à tarde!”
“A questão é fracturante”. Pois claro que é fracturante. Quantos haverá que não têm a minha vida? Reformados, desempregados, abonados que nasceram com o rabinho virado para a lua… esses poderão sempre ir abastecer a despensa à terça, lá pelas 10h00, ou não a abastecem sequer, feliz ou infelizmente… Lojas de conveniência? Comércio electrónico? Ora aí está o que é. Escapava-me. Pois claro: a classe média e média-alta das grandes áreas metropolitanas abastece sentadinha diante do monitor, paga taxas de entrega e sujeita-se aos preços agravados pela inconveniência de recorrer à loja de conveniência a horas e dias menos próprios; os restantes, aspirantes a consumidores de pleno direito, esperam pela segunda-feira ou que o feriado passe, e para a próxima já aprenderam que desopilar ou ocupar-se de si e dos seus ao sábado ou ao domingo de manhã tem os seus custos, e que quem diz quando a hora é de ócio ou de labuta é a APDC, a ACOP, a Conferência Episcopal Portuguesa, a Confederação do Comércio e Serviços de Portugal, a Associação de Comerciantes do Porto, a UGT, o Sindicato dos Trabalhadores do Comércio e Serviços de Portugal, entre outros, que não o consumidor.
Quanto ao comércio tradicional, lamento por quem perdeu o comboio e não se soube afirmar no mercado como mais-valia de carácter distintivo em relação à área do retalho nas grandes superfícies. Se, num domingo à tarde, topar com as portas do hipermercado fechadas, não me resta alternativa senão o transtorno de lá voltar na segunda-feira. O comércio tradicional não se constitui nunca como alternativa, neste caso. No entanto, se quiser comprar determinado produto ou serviço que só aquela lojinha de esquina tem para mim, com toda a certeza arranjo uns minutos para dar lá um salto e lá voltarei uma, duas, duzentas vezes, enquanto me reservar o que mais ninguém tem, servido como mais ninguém sabe, pela mão de quem trato pelo nome.
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