Os pais, o gato, o cão, o ursinho, a fralda, seis chuchas, a camisa da mãe... o que tiver de ser. Perdi os preconceitos nesta matéria. Para tanto bastou parir uma filha e ler um livro. Sei que não vai faltar quem apareça a rebater as minhas palavras - e atenção que eu disse palavras, não disse teoria, não venho teorizar, tudo o que aqui ficar dito teve e tem concretização real. Para quem não entendeu ainda, ou não tem a certeza de ter entendido, esclareço, preto no branco: venho, sim, senhor, defender a partilha da nossa cama com as nossas crianças. O.K. Já estou a imaginar as primeiras reacções de alguns dos que me lêem: "pois... esta já conseguiu estragar a filha e agora procura companhia na desgraça..." Não. Para que fique claro, também: ela deita-se, invariavelmente, por volta das 21h30 (na cama dela) e só acorda, ritualmente, por volta das 08h00 (na cama dela). Mas uma coisa ela tem garantida desde sempre - quer dizer... desde que li o livro - basta dar sinal e a nossa cama é dos três. E a verdade é que tem noites muito melhores desde que assim é. E a verdade é que é assim desde os seus seis meses, embora ela fizesse noites seguidas de sono desde os dois meses, talvez... Simplesmente, assim que percebeu que podia baixar a guarda ao longo da noite, porque a nossa protecção estava garantida, passou a dormir com outra serenidade, que transparece na sua expressão. Ela passou a ter a garantia de que a atendíamos sempre, de que não estávamos à espera que fechasse os olhos para fugirmos, de que não seria traída pelo peso dos olhos e transferida para outra cama a meio da noite. Por outro lado, nunca nos passou pela cabeça pô-la a dormir se não estivesse realmente cansada e com sono, foi ela que foi ao encontro do relógio e nunca sentiu a ameaça dos ponteiros. Ainda hoje nos perguntamos, todas as noites, quando se aproxima a hora: "Achas que já está pronta? " E a resposta tem de ser "Sim", caso contrário, volta aos livros, às torres de Mega Blocks, aos beijos roubados, às turras de mimo... Como se falássemos de um parto, respeitamos meticulosamente cada uma das fases da passagem da vigília ao sono, sem saltar nenhuma, sem precipitações, porque também num parto não passaria pela ideia de ninguém mandar fazer força a quem não chegou sequer a experimentar uma contracção.
Até agora, fiz-me entender, não é verdade? Ninguém tem dúvidas de que ela é um exemplo de disciplina no que toca a hábitos de sono (e não só, mas isso dá outro post...)? Vamos então à cama dos pais. A necessidade, sublinho NECESSIDADE, do ser humano dormir acompanhado é genética e perde-se na memória dos tempos. Nos primórdios da Humanidade, dormir sozinho era sinónimo de extinção. Dormir com outros garantia-nos a sobrevivência. Quem dormia sozinho estava mais vulnerável e sucumbia às garras de qualquer fera e à lei do mais forte, que no caso era sempre aquele que tinha inteligência suficiente para não cometer o erro de adormecer sozinho. Ora, não é novidade para ninguém - qualquer pai ou mãe mais atento o terá já constatado - que as crianças conservam o que de mais instintivo há no Homem. É justamente o instinto de defesa e sobrevivência que obriga um bebé a chorar ao longo da noite. Se assim não fosse, a mãe corria o risco de adormecer por demasiado tempo sem o alimentar, ou de chegar já tarde, quando um predador mais atento desse com a cria. Claro que existem crianças que nunca choram, mas essas, noutros tempos, estariam condenadas à partida, não teriam grandes hipóteses de atingir um ano de idade. Digamos que os "chorões" estão geneticamente melhor apetrechados para sobreviver. Colmatadas as necessidades de alimento e higiene, resta a necessidade de protecção pessoal, que a criança procura garantir acordando de vez em quando, para se assegurar de que estão a olhar por ela. A partir daqui, o ciclo pode seguir duas vias distintas: ou a criança constata que a sua segurança está idubitavelmente garantida e começa a acordar cada vez com menos frequência, porque consegue serenar o espírito; ou verifica repetidamente que não está protegida, que foi enganada numa segurança ilusória, e começa a acordar cada vez com mais frequência, a exigir atenção constante e a reivindicar abusivamente a cama dos pais, como forma de se certificar da sua própria segurança. Aquela teoria, defendida por muitos, de que o bebé pode ser embalado, mas deve ser deitado na sua cama ainda acordado, para não estranhar o espaço quando voltar a acordar a meio da noite, está certa na forma de operacionalização, mas não no seu fundamento. Quer dizer: sou de opinião de que o bebé deve de facto ser deitado na sua cama ainda acordado, mas não por uma questão de reconhecimento espacial. O que acontece é que, quando fazemos isto, estamos a dizer à criança: "Vês? Ficas aqui e estás segura. Não te quero enganar." Acontece que isto só pode ser feito quando o bebé já entendeu que não corre riscos e pode confiar no nosso socorro intantâneo sempre que necessário. O êxito neste processo de aprendizagem da confiança, faz das crianças seres mais independentes, empreendedores, ao contrário do que defendem muitos. Uma criança constantemente traída na sua confiança torna-se receosa, isso sim!
Demasiada teoria, para quem disse que não vinha teorizar, não? Mas a teoria não é minha. É do pediatra Carlos González, que em boa hora escreveu o livro Bésame Mucho. Como Criar os Seus Filhos com Amor. Uma verdadeira bíblia para os pais!
Eu posso assegurar: a minha filha teve a cama dos pais sempre que quis ( e tem querido algumas vezes, todas justificadíssimas por doença, sonhos maus, rotina diária transtornada...); no entanto, continua a sorrir ao seu colchão, lençóis e edredon quando o relógio marca as 21h30. Daí para a frente é só "Até amanhã...", com dois beijos e uma visita tardia ao quarto, só para a vermos dormir e para afugentar algum lobo mau...
Agora batam-me, vá. Não me importo.
17 comentários:
Ah pois é. Desde que li esse livro (e agora, novamente grávida, penso seriamente em comprá-lo) também perdi alguns preconceitos. A minha Inês tem uma rotina muito parecida com a da tua filhota: adormece e, invariavelmente, acorda na cama dela, mas nunca forçada. Se for preciso vir para a nossa cama, vem. E num destes dias em que confessei ao meu marido apetecia-me tanto adormecer com ela na nossa cama foi ele que me incentivou a fazê-lo. Foi transferida para a cama dela a dormir e não sofreu com isso. Também não faço disso hábito... mas quanto ao resto, concordo contigo a plenos pulmões :)
Não te preocupes com a opiniao dos outros.
O importante é que gozes os momentos todas com a tua filhota.
Ehehhee!
E sabes, já ofereci esse livro a duas grávidas!! E a culpa é tua!
E ainda não acabei de o ler... e agora a minha opinião. Sabes que adorei o livro. É uma prespectiva completamente diferente. Acalmou-me, e fez-me ver q eu não era assim tão fora do normal .... ultimamente consegui algo q não pensei ser possivel. Adormecer os 2 cada um na sua cama. E foi tão fácil. É que o facto de dormir as noites inteiras com os 2 estava a ser insuportável. Nem eles descansavam... nem eu. É que dormia mesmo mal!! Além de que o pai tadinho resignava-se ao sofá... uma cama para 4 tinha q ter uns 2 m...
Mas como tu disseste, passou tb por essa segurança de saberem q me têm ali sempre q precisarem e volta e meia assim q acordam... tipo 6 da manhã (arghhh) lá vem um... e depois o outro e e tão bom....
(arre granda testamento)
Ah! Agora percebi! O meu deve ter um sentido de sobrevivência apuradíssimo... É que adormece sozinho, sem protestos, na caminha dele, mas vai (quase) sempre parar à nossa, por volta da uma da manhã. Nunca lhe neguei isso. E não foi por nenhuma razão filosófica, foi mesmo porque queremos é que ele durma para nós também dormirmos... E na cama pode mamar mesmo comigo a dormitar (o rapaz farta-se de comer, de dia e de noite - também aqui deve ser instinto... não come por fome, mas por medo da fome!). Acho que muitos pais levam os filhos para a sua cama, porque é fácil, é bom e é ternurento. Acho que vou comprar o livro! :)
Que atire a primeira pedra quem nunca fez como tu, aliás, devo confessar que apesar das minhas filhas pedirem para se deitarem connosco, reconheço que adoro agarrar-me a elas, sentir o cheiro, contemplar-lhes o sono, ver as suas expressões...se calhar eu ainda gosto mais do que elas de me deitar ao seu lado...
eu faço o mesmo e ainda não li o livro. mas eu deixo que ela adormeça no meu colo depois do leite. porque quando cai no sono solta um suspiro delicioso, porque faz bem às duas, porque ela nunca fez birra para ir dormir (para ela é um momento de prazer). E quando acorda à noite consegue voltar a adormecer (basta pegar nas chuchas) e quando não consegue e chora lá estamos nós para a levar connosco.
sempre tudo em paz.
tens aqui uma aliada
Bater-te?! Nunca minha querida... ou já te esqueceste de eu ter escrito há tempos que gostava (eu própria) da cama da minha filhota!
Venham quantos vierem para debaixo daqueles lençóis... eu também gosto muito de sentir o seu cheiro ali tão perto de mim! E aqueles abraços nocturnos?!
Beijos
eu já te disse o quanto gosto de te ler?? :o))
e gostei muito, sim sra...até porque estamos naquela fase em que o diogo está finalmente a sossegar no sono :o)
um beijo grande da Dona Lua e sua prol ;o)
ps - desconheço o livro...vou pesquisar!
Como sempre, excelente texto. (Sou tua fã!)
Ainda para mais, não podia estar mais de acordo!
Beijinhos.
Não podia estar mais de acordo contigo. De manhã, trago sempre o meu filho para o nosso meio. e sabe tão bem...
Beijocas grandes.
Acho q em Portugal nunca se conheceu outra teoria a avaliar por tt concordância. Aqui, deste local onde me encontro, tb ergo o meu braço em defesa da teoria do mimo. O meu filho tb acaba a noite mta vez na nossa cama.
E agora uma daquelas frases da praxe: então, mas se a criança quer companhia, pq ñ lhe arranjas tu uma? Mano/a??? ihih.
Esta veia alcoviteira tb é tipicamente portuga. E eu, portuga me confesso...
Olha ainda ontem, quando fui deitar a Bia para a adormecer na cama cheguei à conclusão que ela não queia dormir, não tinha sono, queria rebolar e brincar e enfim. Coloquei-a na minha cama, liguei a tv do quarto e estivémos ali as duas a brincar. Passados uns 20 mnutos começou a esfregar os olhitos, a encostar-se a mim, a agarrar-se à minha roupa... sinais evidentes de sono! Voltei a colocá-la na cama dela e em menos de 5 minutos adormeceu :) É certo que não eram 21h30... já eram 22h30. Mas ela não tinha sono e eu achei pouco prudente tentar obrigá-la e originar uma birra!
Concordo contigo... e muito!
Beijinhos
Como já escrevi...o meu filho é uma pérola.
Já deve ter chegado à fase em que sossegou porque percebeu que mesmo na cama dele a segurança dele está assegurada.
Desde os 5 meses que dorme na cama dele 10 horas seguidas por noite.
Há excepções como a doença, um sonho mau, que podem levar-me a deitá-lo conosco na nossa cama mas quando ele finalmente se acalma ou adormece, volto a pô-lo na caminha dele.
E claro que não te atiro pedra nenhuma melher!
Acho que fazes muito bem. Disciplina sim, mas muito mimo também.
:D
Beijinhos
Não podia estar mais de acordo.
1 bjx, licas
Pois a minha agora nunca quer ir para a cama. Se a deixar, fica até à meia-noite e continua a berrar que não quer ir dormir, apesar de estar cheia de sono.
Deve pensar que a vida fora da cama é bem mais divertida.
Com a sesta é a mesma coisa.
Concordo, mas nem sempre fui muito coerente nesse aspecto.
Mudei de endereço.
Quem fala assim, não é obviamente gaga! E que bom que é ver tanta gente de acordo. Acho que se nos deixarmos levar pelo instinto não podemos estar a agir mal.
Tambem nao conhecia o livro, mas vou já procurá-lo!
Obrigada pela partilha! ;)
Rita
vou discordar!!! (ahahahaha...)
quer dizer, a tua teoria (ou palavras) faz bastante sentido. mas penso que só se aplica nos bebés que na verdade nunca deram problemas para adormecerem ou dormirem.
a minha filha mais velha só atinou com o adormecer sozinha na cama dela depois dos 9 meses. e porque eu a "corrigi" (depois de ler um livro também...). não havia sequer a cama dos pais que lhe valessem!!! chorava chorava chorava até dormir.
depois disso a "tua" teoria passou a aplicar-se. a nossa cama acontece quando ela está mais frágil, doente ou carente (é muito raro)
mal eu sabia que a minha segunda filha iria ser pior ainda do que a primeira. não a aguento na sua cama um segundo com sono. pode até lá brincar um bocado. mas para dormir, nada. NEM NA NOSSA CAMA. É só chorar até à exaustão.
que raio de instinto de sobrevivência é esse?!?!?
(mais uma vez sinto-me a fazer tudo ao contrário do que devia para melhorar a situação... e não o consigo evitar pois não sei o que deva fazer!!)
[desculpa lá, é a primeira x que comento aqui e pareço desesperada...]
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