quarta-feira, setembro 21, 2005

Madurezas

Entrei na perfumaria, a correr, na minha hora de almoço que hoje não chegou a ser, em busca de uma prenda para a avó N., mãe do P. - sogra, pois... mas não gosto do termo e nunca a trato assim.
O cheirinho teria de ser mesmo um cheirinho - o mais discreto possível, sóbrio, muito "avó", mas sem descambar para o aroma de sacristia. Peguei no Madame Rochas... Nããã! Demasiado decrépito, nada a ver com os olhos sorridentes da avó N. Passei ao Ô de Lancôme... Também não. Demasiado estival, em desacordo com o Outono que já se sente. Apanhada pela exuberância de um frasco em forma de balão de ensaio, tingido de verde alface, como se a tinta não tivesse chegado para a obra perfeita, arrisquei o teste. Borrifado o cartãozinho de ensaio, aproximei o nariz. Bom, escuso-me aqui a descrever a informação que me chegou ao cérebro, qual choque eléctrico em fulminante descarga. Basta imaginarem o seguinte: de repente só me ocorreu uma avó de mini-saia e plumas no cabelo, muito desgrenhado, como se usa agora. Aquilo foi o suficiente para me fazer saltar para o clássico dos clássicos: Chanel nº 5. Pedi o frasco maior, que a avó até merecia cinco litros, mas não há... Já na caixa, perguntam-me se é para oferta. O embrulho ficou bonito... talvez um pouco festivaleiro, a dar assim um bocadinho com o perfume do balão verde, mas não estava mal, atendendo à ocasião... Despachei o pagamento e fiquei à espera que a moça acabasse de vasculhar as gavetas das amostras, a ver o que me havia de dar. "O do costume" - pensava eu já no limiar da impaciência, a imaginar as amostrinhas de perfume, género essência de pudim... e logo para mim, fiel ao mesmo perfume há mais de treze anos... Quando encontrou finalmente o que me queria dar, explicou: "Um cremezinho reparador da Lancôme, para usar à noite!" OK.
Zarpei com a mira numa sandes que me fizesse esquecer a fome. No caminho até ao carro deitei os olhos para dentro do saco, só para ver de novo o embrulho, e topei com a oferta. Peguei na caixinha e li: "First Signs of Ageing Visibly Skin Regenerating Night Treatment". Pronto! É óbvio e desconcertante! As primeiras rugas já não passam despercebidas!... Por outro lado, posso sempre ver a coisa sob uma perspectiva mais optimista: é melhor uma oferta destas do que uma outra que usasse aquele abominável eufemismo das "peles maduras". Esse é que não suportaria! Já terão reparado na habilidade do marketing, que agora chama às peles encarquilhadas e amachucadinhas "peles maduras"... E eu dou por mim a imaginar a minha pele "madura"... Pior: imagino-me com a pele a cair de podre! É natural, não é? O que amadurece acaba por cair de podre, se não for bem aproveitado...
Ironia de tudo isto: lembram-se como começou o post? Eu entrava na perfumaria à procura de um perfume muito "avó"...

9 comentários:

LP disse...

... e acabaste a imaginar-te com a idade de uma...

Beijinhos grandes

Raquel disse...

Moral da história: se entras para comprar um perfume muito "avó", sais com cremes para peles "maduras", que é como quem diz a cair de podre.
Será que não te escapou para a senhora que procuravas um perfume para a sogra?
Talvez o creme até fosse a pensar nela...
Olha eu a tentar animar-te!!! Eheheheheh!!!

Xana disse...

Tu és bestial. Vais já direitinha para a minha lista de blogs!

S.A. disse...

Ehehehe, que linha de pensamento!!

DEmais!

Anónimo disse...

ahahahahah!! Eu acho que se calhar a amostra era para ela!! Eu tb tenho algum receio da "pele madura", mas o que é que se há-de fazer senão usar cremes?! As rugas são as marcas da nossa vida. Onde é q ouvi isto?? Beijocas

a mãe dos miúdos disse...

rapariga, é uma delícia ler-te :D:D:D

adorei

bjs
sónia

Célia disse...

.... eheheheh!
Beijos

Jolie disse...

lolololololol

O que eu me ri!!!

AnaBond disse...

ahahahhahaahhahahhaah

é por estas e por outras que mesmo estando sem ler o teu blog à muito tempo, tenho de ir ler o que 'já passou'...