quarta-feira, junho 15, 2005

Os filhos dos outros

Bom... o diálogo, quase monólogo, foi telefónico.

A voz atendeu:


- Centro de Saúde de tal. Diga.

- Boa tarde, minha senhora. Venho marcar a consulta dos 6 meses para a minha bebé...


- Quando veio a última vez? - como quem diz "Vamos ver o que me apetece fazer pelo teu caso".
- A última consulta foi a dos 5 meses, minha senhora...


Aqui vi o meu discurso cortado à faca:

- A DOS 5 MESES NÃO FOI DE CERTEZA! Só há consulta do nascimento, 1 mês, 3...

- Minha senhora, foi a dos 5 meses, porque fiquei em lista de espera. Não havia consultas que dessem com os 3 meses da minha filha...

Silêncio muito breve, a arranjar fôlego para a próxima rajada:

- Venha amanhã - a ordem foi militar.

- Amanhã não posso, minha senhora...

Mais uma facada na minha impertinente diplomacia:

- NÃO PODE???!!! É DA SAÚDE DA SUA FILHA QUE SE TRATA!

- Eu explico, minha senhora...

- NÃO! NÃO É A MIM QUE TEM DE EXPLICAR! A MIM NÃO TEM DE EXPLICAR NADA!

Não tive alternativa. Ou subia o tom de voz, ou jamais lhe cilindrava o discurso. Cresci:

- Não, não, minha senhora! A senhora cumpre o seu papel - espero que bem... - e eu faço questão de cumprir o meu! Passo a explicar: sou professora e estou a preparar alunos de 9º ano para irem a exame nacional. O Ministério da Educação autorizou, a título excepcional, aulas suplementares, já calendarizadas, na tentativa de compensar um início de ano conturbado. Se falto a uma destas oito aulas, os alunos não voltam a beneficiar de qualquer outra forma de apoio antes do dito exame...

De novo à facada, uns decibéis abaixo:

- Bom... se perfere tratar dos filhos dos outros a tratar dos seus...


Filhos dos outros???!!! Ela disse "filhos dos outros"???!!! Não respondi:


- Minha senhora, pode ser que um dia tenha a sorte de serem seus os "filhos dos outros" que tenho a meu cargo...


Pois não... não foi exactamente assim que respondi, mas tenho tanta pena...

4 comentários:

Anónimo disse...

Gabo-te a paciência.

S.A. disse...

Porra,

Vai lá vai, mas pq é q essa gente é sempre assim?? Não entendo! Será algum virus no serviço publico de saúde?

Enfim...

Raquel disse...

Pois é...elas têm um gravador e quando atendem põe a cassete.
E quem está do outro lado do telefone é um incógnito/a que elas querem despachar...

Dá vontade de dizer ao estilo da Maria de Medeiros - Vai á mer....
- com muita classe claro!

JC disse...

Pois é, há gente muito idiota por aí. Infelizmente estão em todo o lado!