Mas de olho na garrafa. Convém. Sobretudo desde que a lei obriga à menção, no rótulo do vinho, da presença de sulfitos. Andamos muito distraídos, ou já toda a gente reparou que agora as garrafas de branco ou tinto apresentam a frase "Contém sulfitos", a letras muito pequeninas?
Ora, tanto quanto consegui apurar, estes sulfitos não são senão um conservante, derivado do enxofre, adicionado ao vinho, com efeito anti-oxidante e com o poder de matar bactérias. Note-se que algumas marcas/produtores optam pela menção "Contém E220", o que vai dar rigorosamente ao mesmo. Segundo li, na verdade não há vinhos sem sulfitos, uma vez que esta é uma substância produzida naturalmente durante o processo de fermentação. Simplesmente, se a presença de sulfitos não se fica pelo que é natural e passa à qualidade de aditivo, então a sua presença no vinho tem de ser declarada no rótulo.
Até aqui, tudo bem. A coisa funciona às claras como eu gosto. Tanto é, que, em 1997, o então Presidente da Repúplica promulgou inclusivamente o Decreto-Lei n.º 159/97 de 24 de Junho, transpondo para a ordem jurídica nacional aquilo a que uma Directiva Europeia já obrigava. Acontece que o relambório legal não obriga as marcas/produtores de vinho a mencionarem a quantidade deste aditivo diluída nos seus néctares... Olha que chatice! Esqueceram-se! Oh... deixa lá. Que importância é que isso tem? Eles já são tão queridos ao fazerem o favor de nos informar das porcarias que juntam à reserva de Duas Quintas de 2003, para quê procurar mais cabelos em ovos, não é verdade? Não, não é verdade. Nem eles são uns queridos, nem é líquido que os ovos não possam ter cabelos! E a coisa é tanto mais gadelhuda e desgrenhada quanto é certo que esta porcaria da família do enxofre (como o Demo, ele próprio) é responsável por aquelas estranhas dores de cabeça que experimentamos com uns golinhos apenas, ou uma valente crise de asma para os consumidores mais sensíveis. Sabia disto? Não? Eh, pá! Então eles não avisaram?! Ah... pois não... esta parte não tem de vir no rótulo. Mas, pensando bem, a mensagem subliminar está lá, é tudo uma questão de morfologia - eles nunca lhes chamaram sulfinhos, pois não? O que lá está escrito é "sulfitos" e a gramática avisa: a conotação é depreciativa. Só não vê quem não quer.