quarta-feira, maio 09, 2007

Ou sim, ou sopas

Sopas! Eu cá é mais sopas, definitivamente. E só gostava que a americanada toda me ouvisse bradar: EU CÁ É MAIS SOOOOPAAAASSSSS!!!

Quer dizer... um belo dia tecem elogios rasgados à chamada "dieta mediterrânica", com as obrigatórias saladinhas fartas, regadas com o seu fio de azeite; o pão dito "de segunda" (que para mim virá sempre em primeiro); o modesto copo de vinho; os ensopadinhos de cereais (vulgo papas); o peixe gordo ainda com cheiro a mar (antes mesmo de se renderem às virtudes do omega3); e, lá está, A SOPA! No dia seguinte, arranjam forma de tramar o mérito do velho continente e toca de difamar a sopa, desvirtuá-la, deixá-la reduzida ao caldo desenxabido, a fazer lembrar o que resta da água suja, depois de lavadas as chávenas de café! E nós, meninos UE, com o complexo da reverência, lá baixamos o nariz e ficamos com o rabinho a descoberto, enquanto vamos repetindo"Amen, uncle Sam"! Mas afinal que fantochada é esta de nos virem agora impingir a ideia de que a sopinha é muito boa para a saúde, sim, senhor, mas sem batata?!Ah! E já agora, eliminem a abóbora e a cenoura que também não fazem lá falta nenhuma! Certo. Ficamos, portanto, com a sopinha made in USA, preparada com uma base de... de... de... Eh, pá! De... de... de... Agora de repente não me ocorre nada para a base desta sopa... Ah! Pois claro! Que má vontade a minha! Rabanetes! Ora aí está o ingrediente que, cozido e bem passado, constitui a base ideal de qualquer sopa! Não é apreciador do tubérculo? Não há problema nenhum! Arranja-se já uma ramazinha de aipo que faz perfeitamente a vez! Também não é chegado ao aroma? Hmmm... Nabiça! Vai à varinha mágica e, sem mais nada, faz a base perfeita de qualquer sopa! Claro que só uma categoria de pessoas pode atingir o ridículo destas minhas sugestões - todos aqueles que alguma vez na vida já se entregaram à tarefa de fazer uma sopa. Quem percebe realmente de sopas (que não são certamente os senhores fast food nem os médicos/nutricionistas portugueses que lhes engoliram as teorias furadas!) sabe que não há nada mais elementar e óbvio que a receita de uma sopa, a saber: junte-se a uma boa base tudo o que nos vier à cabeça ou sobrar no frigorífico. E é justamente nestes últimos ingredientes (que devem ficar inteiros na sopa) que está o segredo do equilíbrio nutricional da mesma! Explicando: é claro que a base de uma sopa (isto é, a parte que se apresenta em estado líquido no nosso prato) pode ser mais ou menos carregada de batata. Idealmente, a batata, a cenoua e a abóbora devem aparecer naquela dose estritamente suficiente para garantir a homogeneidade do puré. O resto do "corpo" desta base deve ser conseguido à custa da cebola, do nabo, do alho, do alho francês, da courgete, da couve-flor, dos bróculos, etc. Mas eliminar radicalmente aqueles três ingredientes seria um disparate de calibre! Repare-se: a base de uma sopa, mesmo que leve bastante batata, abóbora e cenoura, é consumida em quantidades mínimas se, nesse constituínte líquido, pusermos a boiar uma série de outros elementos inteiros. Façam a experiência: cozinhem a sopa que tenho ali para o meu jantar, sirvam-na num prato fundo e retirem-lhe minuciosamente, com um garfo, os bocadões de feijão verde de partir e courgete que lhe acrescentei inteiros. Hão-de ver que ficam com uma quantidade ridícula de puré de legumes no fundo do prato! Ora, o mal de qualquer dieta jamais pode estar naquela penúria alaranjada, muito pelo contrário - a batata, a cenoura e a abóbora são importantes, em quantidades moderadas, e deixam-nos uma sensação de saciedade que nos leva a comer menos a seguir! Onde está, muitas vezes, o erro nutricional é no facto de confundirmos purés com sopas, propriamente ditas. Claro que, nesse caso, fartamo-nos de engolir batata, cenoura e abóbora! O que se quer são as chamadas sopas à lavrador (hmmmmmm!...) - a base reduzida ao mínimo (se puder ser só água, óptimo!) e os bocadões de tudo e mais alguma coisa acrescentados ao máximo, boiando, nadando e afogando-se, felizes e contentes, no nosso prato - incluíndo bocadões de abóbora e cenoura, por que não?! Outro erro crasso está tantas, tantas vezes no azeite que juntamos à sopa ainda ao lume, ou já depois de pronta, quando sabemos que teremos mais tarde de a requentar. O azeite é ingrediente fundamental de qualquer sopa, mas sempre a cru e usado com toda a parcimónia.


Resumindo, fica o conselho para o lado de lá do oceano: nunca tive a pretensão de os ensinar a fazer hot dogs, pois não? Então, deixem as sopas connosco, ok?

7 comentários:

Rita Coelho disse...

Quem fala assim,não é definitivamente gaga!! Apoiado!

Pensadora disse...

Ontem também ouvi num programa da rádio sobre essa coisa da sopa sem a batata e a cenoura e também achei que esta gente realmente não sabe o que quer. É como dizes, um dia a dieta mediterrânica é maravilhosa, no seguinte já é tudo um atentado à saúde.
Subscrevo este teu post até à última letra!

Carla

Anónimo disse...

Apoiado.

Tita Dom disse...

A D O R E I!!!
Adoro fazer sopas!! E lá por casa nunca falta! Já agora o que é aquilo verdito que tens a boiar na sopa?

Jolie disse...

Ora nem mais!

Beijos!

(mas já agora o xuxu pode ser usado em vez da batata e as sopas ficam igualmente boas)

Mocas disse...

Nem mais! Cá em casa é com batata, cenoura e cebola ... e depois feijão, grão, espinafres, couves de todos os tipos, alface, tomate, feijão verde, agrião e sei lá que mais ... sim, e quem só sabe fazer hot dogs, é melhor mesmo estar caladinho...


bjs!

Ana Rangel disse...

Ora nem mais, pá! Vou agora fazê-la... :)