quinta-feira, novembro 10, 2005

Alguém viu a minha cigana?

A Pirralhita nasceu há quase um ano. A comemoração da efeméride está para breve e à medida que os dias passam vou fazendo regressões no tempo até há um ano atrás. Foram dias de uma ansiedade desmedida, paralisante. Havia muito para fazer, sentia que nada estava definitivamente em ordem para o grande dia, mas o estado de tensão em que me encontrava deixava-me estática, como se o meu subconsciente repetisse constantemente: "Espera! Agora não posso! Ela vai nascer!" A imagem que mais fielmente traduz o meu estado de alma na altura é a de uma festa grandiosa que vamos dar em nossa casa, com os convidados a chegar, a campainha já soou uma vez e de repente pomos os olhos no chão e vemos gigantescos rolos de pó em circulação. O dilema impõe-se: abro a porta ou pego rapidamente no swiffer? Pois bem, nos dias que antecederam o meu parto, paralisei de ansiedade: fiquei incapaz de pegar no swiffer, porque achava que a todo o momento tinha uma das visitas diante de mim, e ao mesmo tempo tinha a sensação de que os convidados haviam de ter tomado por engano o elevador até ao 11º andar e nunca mais chegavam à minha porta - a R. não nascia e eu mantinha-me refém da expectativa, incapaz de agir.
Mas isto foi exactamente há um ano atrás. O que recordei hoje, aos saltos no tempo, foi o período de internamento hospitalar pós-parto. Voltei a comover-me recordando a minha cigana. Éramos sete na enfermaria. Quando cheguei vinda do recobro ainda só estávamos cinco. Num estado de dolorosa imobilidade, atirei ao ar a pergunta: "Será que posso levantar a cabeceira a esta cama?". Uma mãe disse-me que era só girar a manivela que estava aos pés. "Só". Como se eu pudesse sequer soprar um fósforo! Então, uma mãe cigana que me observava do extremo oposto disse-me muito prontamente que me ajudava. Mais: fez questão de dar ela à manivela, sem que eu me mexesse. De barriga ainda redonda, suportou portanto o peso da cama e o meu. Vendo depois o estado de desamparo em que me encontrava, fez questão de me ensinar como podia pôr os meus 3,440 kg de gente a mamar. Antes de regressar à sua cama, ainda me disse que a minha filha era linda.
Enquanto escrevo choro, com saudades da minha cigana de ar invulgar, loura de olhos verde-felino. Nem o nome soube. Alguém viu a minha cigana? Queria mesmo dar-lhe um beijo...

14 comentários:

Raquel disse...

Pronto! E fizeste-me chorar a mim!

S.A. disse...

Há muito "boa" gente que devia ler este post...

2 semanitas âh?

Rita disse...

:)
Se a vir digo-lhe para ir ter ctg!
Beijinhos

Anónimo disse...

Q lindo!!! Eu tb queria agradecer à minha parteira q foi 5 estrelas e tão querida p mim e simplesmente não consegui, na hora não se saiu nada e agora não me lembro da cara dela só me lembro de um rosto meigo e calmo... Beijocas

Sara CS disse...

São as vantagens de um quarto comunitário. Passei por algo semelhante, com mamãs mais experientes a ajudar-me!
Beijinhos.

Perola Granito disse...

Olá! Passei para te desejar uma boa semana. As novidades continuam em grande lá no nosso cantinho. O Natal está quase a chegar... beijinhos

Lipa disse...

Se a vir dou-lhe eu um beijinho...ou dois ou três que ela merece! Gostava de ter tido uma ajuda dessas no me quarto mas infelizmente eramos todas mães de primeira viagem sem saber ao certo o que estavamos a fazer (e eu era a mais velha!).Há pessoas que nos marcam a vida sem saberem ;)
beijinhos

AnaBond disse...

adorei, adorei, adorei...
como eu gosto do que escreves...

amiguita disse...

É daquelas coisas que se tem de fazer na altura, agradecer, dar um beijinho...

Aqui fica o meu, gostei muito de ler.

Beijinhos Tânia

Anónimo disse...

Também lhe dou um beijinho se a vir.
Adorei.
Beijinhos

LP disse...

E aqui estou parva, de lágrimas nos olhos...

Se eu vir essa linda cigana digo-te, prometo!

Beijinhos grandes

Jolie disse...

Ajudas dessas são raras!

Um beijinho para a tua cigana! Quem sabe se não se voltam a encontrar um dia.

Alice disse...

Que lindo. Por vezes as pessoas passam na nossa vida e deixam estas marcas.
Cheguei até aqui por intermédio da InêsN que me fez um link para o teu post de Setembro sobre rabinhos assados. Pois é... a minha filhota está agora a passar pelo mesmo e vou seguir os teus conselhos.
Para além disso adoro ler o que escreves. Aliás nesse texto a frase que a Ana Bond destacou nos comentários está demais.
Muitos beijinhos e espero que o Nicolau atenda os teus pedidos. :)
Alice e Inês

Célia disse...

Sabes que me aconteceu o mesmo... mas a minha não foi uma cigana! Foi uma senhora que me deu a minha menina e me levantou a cama...
Beijos