... Venho apelar ao bom senso e contenção de quem anda a magicar o nome que há-de dar ao filho que está para nascer. Desculpem-me a presunção, se vos parecer assim.
Façamos a experiência: perguntemos a um punhado de mães recentes por que motivo escolheu o nome X para o seu besnico. As respostas rondarão muito provavelmente o "gosto imenso do nome, sempre gostei, não tem nada a ver com modas!..."; "é o nome do pai"; " a avó chamava-se assim..." - isto na melhor das hipóteses. A coisa pode no entanto correr pior e teremos o "bem!... é tão querida na novela, não é? Achei o máximo!" ou "ah, campeão! Aquilo é que são golaços!". Tudo bem... cada um com seus gostos... e os filhos são nossos, não é? Podemos escolher o nome que entendermos, certo? Nim. Claro que é aos pais que cabe a decisão, não esquecendo, contudo, que um nome identifica, ad eternum, um bebé-criança-adulto-velhinho-defunto! Só isto! Não é suposto que pais conscientes, por capricho próprio, estigmatizem para o resto da vida, e para além desta, uma pessoa que - ATENÇÃO! - NÃO LHES PERTENCE, NÃO É SUA PROPRIEDADE!!!
Claro que cada nome terá a sua história, razão de ser, é muito bonito que assim seja. Parece-me sempre muito triste que alguém não saiba contar a história do seu nome, por mais absurda que possa parecer. Sei, por exemplo, que me chamo assim porque a primeira pessoa que me visitou na maternidade foi um tio cuja mulher tinha este mesmo nome. Sei também que o nome do meu marido foi votado entre os restantes cinco irmãos já nascidos... Posso portanto contar mais tarde à Pirralhita que a avó é um exemplo de democracia. Imaginem agora que a dita tia se chamava Pulquéria e que o resultado do sufrágio ditava uma maravilha como Anaximandro. Como actuariam pais sensatos? O.K. A homenagem seria bonita, a intenção eleitoral muito pedagógica, mas a criança não pode carregar este fardo o resto da vida!!! - assim pensariam e muito bem! Eu própria teria gostado muito que a minha filha respondesse pelo nome de uma das avós, mas não tinha esse direito, já que qualquer um deles funcionaria mais tarde como um ferro, idêntico àqueles com que se marcam cavalos! Comecei logo a imaginar as tristes cenas na escola: "Chamas-te como???!!! Ora diz lá isso outra vez! Como? Fogo! Como é que isso se escreve?"
Pois... o ideal seria um nome que até é o do avô, ou actor de novela, ou jogador de futebol; não faz de uma criança ave rara; e reúne o consenso familiar... não é fácil...
Ah! Já agora, só mais um critério para juntar a estes três - ando à procura de uma mãe que me responda assim à pergunta lá de cima: "Olha, chamámos-lhe assim porque achámos que ela havia de gostar um dia..."