terça-feira, janeiro 30, 2007

Simplex

Tão simplex quanto isto:

Perdi o meu cartão de beneficiária da ADSE. Dirigi-me, portanto, aos respectivos serviços centrais, para tratar de uma segunda via do dito documento. Meia hora à espera (sim, a coisa correu muito bem!) e a pergunta vem de encontro à minha sinusite:

-Quer entrega prioritária?

Quis saber, obviamente o que era o “prioritário”, que isto das prioridades é como os chapéus do palerma. Ora, uma vez que o prioritário da indisposta senhora era sinónimo de instantâneo, nem pensei duas vezes, que naquela fila ninguém me apanhava mais!

- Então são dois euros – sentenciou.

Nisto, começo a ouvir as entranhas de uma impressora em rebuliço e eis que o resultado da digestão é, nem mais nem menos, a tal segunda via. Em folha corriqueira. Nada em papel de gramagem superior, uma folheca, pronto, como já era o seu mais directo ascendente – a famigerada primeira via.

Não sei se alcançam o absurdo do que se passou. Porque paguei dois euros, a funcinária do Ministério das Finanças accionou o lado direito do rato, com o cursor a atingir certeiro o ícon print. Se não tivesse pago a módica quantia, a senhora teria feito rigorosamente o mesmo gesto, naquele preciso instante, ou depois, nas minhas costas, com a diferença que teria eu de lá voltar, tirar nova senha, esperar e receber o cartão.

Roubar e ir preso é que é vergonhoso. Como a segunda condição não se verifica, não há problema nenhum. Simplex.

quinta-feira, janeiro 25, 2007

A vida em convulsão



Esta semana marcou de forma indelével as nossas vidas - a dela, a dele e a minha. A minha filha sofreu uma convulsão febril. Já tive de escrever e dizer isto alto, muitas vezes, até acreditar, eu própria. Os seus tremores atingiram-nos com a brutalidade de um marmoto, ela foi só o epicentro, porque os verdadeiros danos sofremo-los nós. Nunca tinha acontecido. Aliás, até ontem acreditei que não se tinha passado nada. Afinal de contas, o temível fenómeno das convulsões trazia-me à imaginação corpos hirtos estrebuchando, bocas espumando e olhos revirados. Ora, eu não vi nada disso. Tudo o que vi foi uma menina febril ao meu colo, bochechas ao rubro, tremendo discretamente, como alguém cheio de frio que tem vergonha de dizer que deixou o casaco em casa. Só isso. Ao longo de uns dez segundos, só isso. Nada naquele corpinho entrou em desalinho. Achámos por isso normal. Mas depois... depois veio o pânico: "R., tens frio, querida?" E nada. "R, olha para a mamã!" E nada. "Filhinha, onde está a mamã?!" E nada. "Minha vida, minha alma, onde está o papá??!!" E nada. "Meu amor!..." Nada. Aqueles olhos azuis pareciam atravessar-nos fantasmagóricos, perdidos no vazio. Era como se não nos visse nem ouvisse. Era a ausência absoluta marcando presença. Pois é... eu não sabia, mas uma convulsão febril pode ser isto, tão simplesmente isto. Sem grande aparato, estupidamente minimalista na sua manifestação. Menos mal para nós. Alguém decidiu poupar-nos aos "efeitos especiais". Só não me poupou ao calvário que se seguiu, que continuo a viver, no pânico de adormecer e não chegar a tempo de acudi-la. Ainda assim não chorei muito. Da última vez que adoeceu, com uma otite, exactamente há um ano, chorei a ponto de queimar a pele com o sal do pranto. Se calhar é assim mesmo - nós, mães, vamos secando as lágrimas como secamos o leite, gradualmente.

Gradualmente aceitei o que aconteceu. Escrevi dois mails, chorei no ombro de uma colega e abracei-o com quanta força tinha. Foi esta a terapia. Ela ficou bem logo a seguir, como se nada tivesse acontecido; ele garantiu-me que o sucedido não teria qualquer consequência; elas quiseram logo palmilhar quilómetros para me trazerem compras a casa, com filhos às costas e tudo - este é um mundo fantástico, agora sei! Obrigada às duas - e encontrei tanta afinidade no ombro que me suportou o peso, que já nem me atrevo a queixas. Apetece-me gritar ao megafone o nome do bicho, só para ver que já não tenho medo: CONVULSÃO! Agora baixinho, que ela já está a dormir e eu vou dormir também, sem fobias: CONVULSÃO!

terça-feira, janeiro 23, 2007

Sonófoba

Sei que há quem não queira dormir, quem não possa dormir, quem não consiga dormir. Há ainda quem tenha medo de dormir, sei-o desde ontem. E é a primeira pessoa do singular que vos fala.

sábado, janeiro 20, 2007

"Peixes e corações, exactamente."




Post 100% dela - título incluído (!!!)

Nota: A eloquente artista tem 2 anos, 1 mês e 3 semanas.

- Para que publicas isso? Ninguém vai acreditar... - garante o pai.

- Quero lá saber! Publico, sim, ou um dia mais tarde sou eu que não acredito - responde a mãe.

sexta-feira, janeiro 19, 2007

Bem-Amadas Calorias

- Estás de dieta?!

- Sim.

- Para quê??!!

- Para poder comer chocolates à vontade.

Assim de repente, não me ocorre melhor motivo para fazer dieta.

Maiores de 15 (?)

A pedido, cá vai:



Pelo caminho do afecto, sem falsos pudores, sem pipis nem pilinhas, desmistificando insondáveis buraquinhos. Tudo à mostra:


  • Ideologias sexuais;

  • Masturbação;

  • Orgasmo;

  • Fantasias sexuais;

  • Hetero e homossexualidade;

  • Deficientes físicos e sexo;

  • Crianças e sexo;

  • Contracepção;

  • Infertilidade;

  • IVG;

  • Aborto espontâneo;

  • Sexo durante e após a gravidez;

  • Assédio sexual;

  • Violação;

  • Pornografia;

  • E tanto, tanto mais...

Está tudo lá, de facto. Tudo no feminino, tudo sem facciosismos ou preconceitos. Tudo muito Kitzinger.

domingo, janeiro 14, 2007

Tive muito gosto, minha Senhora.

Ontem à noite, ou já hoje - para quem acredita que à meia-noite é outro dia - li uma entrevista a Sheila Kitzinger. A mesma Kitzinger cujos livros comecei a devorar aos quinze anos - traduções de uma editora não representada nas livrarias. A mesma Kitzinger a quem devo a educação sexual que a minha mãe, não sabendo dar, soube proporcionar, quando assinou aquele cheque ao vendedor de enciclopédias que lhe bateu à porta. Ainda hoje recorro a quatro daqueles seis volumes, que se mantêm escandalosamente revolucionários, no contexto de um país teimosamente atrasado.

Ainda assim, dezasseis anos de Kitzinger não foram suficientes para evitar o parto que nunca quis. É natural - os meus olhos de adolescente curiosa escapavam-se cegos e com demasiada insistência para as páginas de cantinhos já dobrados, porque, à época, a masturbação, a contracepção e a fisiologia do acto sexual em si eram muito mais apelativos do que os capítulos respeitantes aos direitos da mulher emancipada e livre. Estava tudo lá, mas eu não vi, nem quando deixei para trás a idade do armário, porque aí estava já convencida de que a vida de casada e mãe de filhos não era para mim. Quando de um dia para o outro topei de caras com o Amor - de caras, de caras não foi bem... mas essa é outra história - quando me entreguei aos beijos de olhos, e abraços de pernas, voltei a chamar por ela, que me fez acreditar que aquela barriga grávida era mesmo minha, como mesmo meu seria o parto que estava para vir. Mas não foi. Cobardemente traí Kitzinger. Entre o 25 de Abril e o 25 de Dezembro escolhi o segundo - escolhi o natal rotineiro e sem sobressaltos. O natal que alguém tinha pronto para me impingir; o natal em série, com todos os estereótipos de lei: luzes, neve, o vermelho e o verde. Não me atrevi à revolução, essa é que é essa. Quando chegou a hora, tomaram conta de mim, mandaram calar a senhora dos livros e eu deixei. Deixei que viesse o soro - sabe-se lá com o quê diluído, mas imagino...- deixei que fizessem de mim uma asséptica púbica e uma vazia intestinal; impuseram-me a posição deitada, imóvel, não fosse o aparelho ressentir-se do transtorno; à revelia remexeram-me as entranhas; perfuraram-me as comportas que largaram uma tromba de água quente; num trabalho mecânico de talhante e costureira arrancaram-na de mim e levaram-ma. Só não conseguiram convencer-me a morrer da cintura para baixo, foi um natal sem Jingle Bells, digamos assim, sempre lhes consegui impor essa contrariedade. No vazio que ficou, voltei a ouvir Kitzinger, já tarde...

Na revista que acabou por me cair no colo, mais pela força do sono que pela da gravidade, vi as fotografias daquela Senhora, que na minha cabeça tinha a figura de uma hippie reinventada, mas é afinal uma velhinha linda, linda. À Senhora que disse, em 2004, que os partos em Portugal são tortura, à Senhora que afirma que, por cá, o parto se tornou uma questão económica, à senhora que nos grita: "Vocês precisam de uma revolução!", a esta Senhora agradeço a minha educação sexual. A ela e à S., à A.S. e à T., nos bancos do recreio, enquanto não tocava para entrar. Muito obrigada, ainda, querido P., que superas largamente todos os livros, teorias e reuniões clandestinas de adolescência. Tu que confirmas, a cada entrega diária, que a linda Senhora sabe muito bem do que está a falar.

A linda Senhora de cabelo branco, olhos de um azul-deslumbrante e pele de pêssego rosado voltou a falar comigo ontem à noite para me lembrar que ainda vou a tempo, que se é verdade que o Natal acontece quando um Homem quiser, não é menos verdade que a Revolução se fará quando a Mulher desejar.

terça-feira, janeiro 02, 2007

E para 2007...

Era um blogger novo, se faz favor.

Esta agora de o blogger não permitir que betas comentem betas está bem apanhada! Não gosta de elitismos, portanto... Temos um blogger ecléctico, está-se mesmo a ver...

Ó rico, limite-se ao que lhe compete, 'tá ver? Publique, apague, pesquise e ponto final, 'tá ver? POSSIDÓNIO!

Eu logo vi que a betolândia não era para mim... Que El Dourado?! O meu reino pelo aroma da plebe! Quero o meu blog de volta! Só... Já!