Hoje, como noutros tempos, continuo capaz de experimentar a excitação própria do regresso às aulas. Anseio por rever colegas, quero porque quero conhecer as minhas turmas, passo por uma espécie de instinto de nidação, típico do final de uma gravidez, que nos leva a rever frenética e obsessivamente os preparativos para o grande dia – arrumo, rasgo, furo, agrafo, arquivo, penduro, ensaco, dou a reciclar papéis de batalhas transactas, babilónias de celulose que me vão soterrando ao longo de um ano lectivo.
Por entre estes montes lisos, pautados ou quadriculados, encontrei:
«Setora peso desculpa mas eu munca mais eu vou perduar pelo aquilo que a setora escreveu porque já sei que quando jegar a casa vou levar porrada da minha madrasta e vou levar com o sinto ou com o chicote. que ás vezes fico com o corpo marcado» [sic]
E assinou.
Por entre estes montes lisos, pautados ou quadriculados, encontrei:
«Setora peso desculpa mas eu munca mais eu vou perduar pelo aquilo que a setora escreveu porque já sei que quando jegar a casa vou levar porrada da minha madrasta e vou levar com o sinto ou com o chicote. que ás vezes fico com o corpo marcado» [sic]
E assinou.
Discretamente deixou-se ficar para trás quando tocou para a saída e largou o papel dobrado em três, com ar oficioso, na minha mão, mesmo no limiar da porta.
Eu tinha escrito um “recado” na caderneta escolar do M., que estava particularmente agitado naquele dia, porque entendi que devia informar o Encarregado de Educação do aluno da perturbação que vinha causando na aula. Não tinha alternativa. Fazer dele uma excepção seria um mau precedente, para além de que o miúdo começava a escudar-se na condição de mal tratado para gozar de alguma impunidade nas aulas.
Nessa noite senti o chicote nas minhas costas e o cinto nas minhas pernas.
Recomecemos.
Eu tinha escrito um “recado” na caderneta escolar do M., que estava particularmente agitado naquele dia, porque entendi que devia informar o Encarregado de Educação do aluno da perturbação que vinha causando na aula. Não tinha alternativa. Fazer dele uma excepção seria um mau precedente, para além de que o miúdo começava a escudar-se na condição de mal tratado para gozar de alguma impunidade nas aulas.
Nessa noite senti o chicote nas minhas costas e o cinto nas minhas pernas.
Recomecemos.
6 comentários:
Glup!! :(
Eu que dei aulas durante muito pouco tempo, mas reconheço a excitação do recomeço!
A minha vida profissional levou-me para outros caminhos nos quais, infelizmente, encontrei muitos M.'s.
Bom Ano Lectivo!
hoje tenho pena de não ter enveredado pelo ensino...
(miúdos desses também apanhei...faz doer a alma.)
Começa com o pé direito... e que nunca mais encontres nenhum M.
Beijos
Bolas, colega! Conheço essa agitação, mas ainda não comecei, porque ainda estou de férias (ih ih) e ainda não sei ao certo os níveis (ou as línguas!) que vou dar.
até me arrepiei. espero que não encontres mais nenhum caso desses.
:(
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