segunda-feira, julho 30, 2007

Mais memórias

Depressa, depressa, depressa, que com a porta assim escancarada para o meio da estrada, mais carro nenhum passa e a sexta-feira tem pressa de chegar a sábado. A miúda até colabora e acomoda-se, atravessa o cinto e não protesta quando lhe peço que espere um bocadinho, porque está um carro para passar. Encosto a porta e faço o gesto maquinal do "venha, venha", de qualquer arrumador do Largo do Caldas, há uns anos atrás. Mas não veio. Veio, mas não passou. Quem parou mesmo ali, ao meu lado, atirou pela janela fora: "Olha, tu não és a S.?" Disse que sim, já em modo scanning, em busca rápida pelos ficheiros da memória. Mas não, aquela cara não me dizia nada... "De São Vicente? Lembras-te de mim?" Eh, pá... é chato, eu sei... mas continuava em branco e tive mesmo de dar a mão à palmatória: "Não me ocorre... Qual é o nome?" Nem assim... O embaraço era crescente, mas nem com o L.M. lá cheguei. Pedi-lhe o apelido. Ah! L.M.R.!!!! Sim! Sim???!!! Grisalho, pesado de anos, com filhos enormes no banco de trás???!!! O trânsito acumulado não deu tempo a esclarecimentos. Só um "Tudo a correr bem! Gostei de te ver!" No entanto, teria bastado uma pergunta, uma só, daquelas que não fazemos por não estarmos certos de querer ouvir a resposta - O meu primeiro namorado? Do colégio onde crescemos, ao colégio dos nossos filhos vai um salto demasiado grande e, assim de repente, nem sei se quero atravancar de novo o trânsito à saída...

Memórias

O miúdo/homem - o moço, portanto - interompeu-me o trajecto e os pensamentos com um : "Olha a minha stora de Português!". Seguiram-se aqueles segundos, da cor da eternidade, enquanto a pergunta me baila na cabeça, a pedir resposta urgente: "Como é que te chamas? Eu lembro-me, eu lembro-me... Como é que te chamas?". E o miúdo/homem - miúdo pelos olhos ainda gozões, homem pela barba que faz picar os bejos - continuava: "Que saudades! Está na mesma! Fantástica..." Ai, moço, moço... Quem foi que te ensinou a diplomacia hipócrita e de circunstância? Não fui eu, que naquele tempo não sabias evitar o bocejo por cima da conjugação verbal! Por aí preferia que não crescesses e que me falasses das saudades da professora/miúda de ar fresco... Mas, na torrente do palavreado protocolar, eis que deixa cair: "Sempre na mesma! Fantástica! O mesmo cheiro de sempre!" ALTO! A nostalgia é genuína, a saudade também! O agora homem fala-me do perfume que, de facto, nunca mudei... e eu comovo-me, finalmente, com a memória dos sentidos, que nunca pensei resistir ao tédio de tanto verbo conjugado... Mas que aprendeste muito depois de mim, ai isso aprendeste...

quarta-feira, julho 11, 2007

Força, amigas da boa forma!

Esta é para ti, para ti e para todas as restantes que andam para aí a queixar-se de vacas e de mistelas com gosto a frutos tropicais. Não se queixem, não? Há quem padeça muito mais.

terça-feira, julho 10, 2007

Casei com um ateu, graças a Deus.

Tenho tanta pena que a hierarquia da minha Igreja insista em passar a imagem de que a virtude e a nobreza de valores está toda do lado de cá, ainda que o discurso oficial, o politicamente correcto, afirme o contrário. O lado de lá não passa da massa passível de conversão, o lado errado, o que devemos tolerar, até que a luz os ilumine. Tenho pena. Tenho pena de não ter senão isto para mostrar ao meu ateu. Quando casámos ainda alimentava a esperança de poder vir a ser, eu própria, exemplo da minha Igreja... mas quando olho para trás não sei sequer se tenho estado à altura do desafio. Ele sim, tem sido para mim um exemplo, uma lição.

Tudo isto à luz do acordo tácito que nos rege: eu nunca tentarei convertê-lo; ele nunca tentará demover-me da minha fé.

segunda-feira, julho 09, 2007

Lavoisier

Cheguei a acreditar que, de facto, tudo se transforma, nada se cria, nada se perde. Não, não é bem assim, que me desculpe o distinto senhor da Química. Não consigo deixar de ficar estupefacta com o exercício de paternidade que testemunho cá por casa. Ele NUNCA teve um pai verdadeiramente presente, envolvido, afectuoso e dado. Não teve modelo para estes predicados, no entanto, perdeu não sei onde a imagem do pai distante e alheado, e criou um pai de abraços, beijos e colo, assim, do nada. É O PAI. Ponto final.

segunda-feira, julho 02, 2007