Não conheço melhor laboratório de ciência da educação do que um parque infantil. Confrontos geracionais, conflitos de interesses, provações da auto-estima... está lá tudo. E por ser um espaço infantil, procuro não interferir muito, por me achar já crescida. Digo “muito”, porque há um mínimo necessário e desejável, se não quisermos que a tarde termine num outro espaço igualmente infantil, mas muito menos convidativo – as urgências de pediatria. Procuro situar-me naquele meio termo entre a mãe que acautela cada passo, inlusive o mínimo desvio da fralda do infante, e aquela outra, refastelada no banco de jardim, de telemóvel acoplado à orelha. Tento ainda olhar para a minha filha como mais uma, igual a todos os outros, o que, devo dizer, não é fácil. É inevitável vermos um filho como único, diferente dos demais, por isso um empurrão sobre o nosso tem outro impacto. Se a vítima for outro, o responsável pela agressão é só mauzinho; se o alvo for o nosso, então o agressor é um alarve. É natural, pois claro. Como é natural – e agora vem a pior parte – que as nossas crianças assumam, para elas próprias, o estatuto especial que ocupam no nosso espírito, tomando a nossa mente pelo mundo inteiro. Quer dizer: levamo-las a acreditar e repetimos-lhes que são especiais, mas esquecemo-nos de um pormenor que, de tão importante, deveria passar de parênteses a sublinhado, dactilografado a bold, elevado à categoria de pormaior: para nós. Elas são especialíssimas para nós. Ponto.
Vem esta reflexão, com cheirinho de autocensura, a propósito de uns minutos de lazer que passei com ela nos baloiços, esta semana. Assim que pôs o lindo, delicado, perfeito pezinho no parque, a minha pré-adolescente, de dois anos e quase quatro meses, foi abalroada por um alarve da idade dela. Antes de fazer deflagrar o pranto, teve tempo de gritar:
- Bruto! Isso não se faz à princesa!
Vem esta reflexão, com cheirinho de autocensura, a propósito de uns minutos de lazer que passei com ela nos baloiços, esta semana. Assim que pôs o lindo, delicado, perfeito pezinho no parque, a minha pré-adolescente, de dois anos e quase quatro meses, foi abalroada por um alarve da idade dela. Antes de fazer deflagrar o pranto, teve tempo de gritar:
- Bruto! Isso não se faz à princesa!
Pois é... quando passarem os egocêntricos dois anos, hei-de arranjar maneira de lhe explicar que aquele bruto é o príncipe de uma outra mãe.
13 comentários:
lol
adorei este post!!!
pois os nossos...são os nossos!!
E isso não se faz à princesa
Esse bruto podia ser o meu!
Adorei!
Jinhos
Silvia & "principes"
lool
mas não te enganes, isso não passa com os dois anos...
O príncipe dela está aqui deste lado lol
o meu é mais provável que o empurrem do q ele empurre alguém...acho que ele é bom demais para este mundo...mas como dizes, são os nossos não é?
Há que proteger só o suficiente para que não os impeçamos de aprender por eles próprios...e o que isso me custa!
LOL LOL LOL!
Ainda vais ter uma que vai ser a 'empurradora'...
gostei, gostei mto
Gostei tanto!
1 bjx
Tens toda a razao!
E ela tb! Bruto! Mas quem sabe não foi um empurrao de amor... ;)
É por ler posts como este que sinto uma enorme pena de estar tanto tempo ausente! E tão a propósito: hoje estive com a minha princesa de dois anos e dois meses no parque e fui assaltada por contas, pesos e medidas da mesma forma como o descreves! O tentar ser equilibrada (mas quem é que desenha o traço?), os outros, a nossa, o centro do mundo...
Gostei, senti,...
(vou fazer link para este post no meu bichinho, posso?)
bjinhs
Ok, marga, se me deixares convite para o teu bichinho...
;)
Claro que sim! :)))) Está à tua espera.
beijinhos e obrigada ;)
lolol
É verdade! Verdade, verdadinha!
(só hoje consegui - um bocadinho forçado - o tempo necessário para ler isto com a atenção que me merece :s)
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