Antologia de antologia – assim me ficou na memória a última cena de Cinema Paraíso. Ainda adolescente, tudo aquilo me pareciam beijos à séria, não o ósculo socialmente convencionado, mas o beijo de ímpeto roubado, como o beijo devia ser. Achava eu que era assim, até ao beijo de há dez anos.
É impressionante como o património lexical de determinada comunidade linguística diz tanto sobre o grupo em causa. É natural que os escandinavos designem a neve por meio de uma infinidade de termos; como é natural e muitíssimo revelador que a antiga civilização romana dispusesse de três termos diferentes para designar um beijo, sem processos figurativos ou conotativos implicados, como fazemos hoje em tom mais brejeiro.
Hoje, mantenho aquela última cena como de antologia, sem a ter, contudo, por antológica. Porque o beijo de há dez anos mudou tudo. Porque a neve terá certamente muito menos cambiantes que um beijo.
É impressionante como o património lexical de determinada comunidade linguística diz tanto sobre o grupo em causa. É natural que os escandinavos designem a neve por meio de uma infinidade de termos; como é natural e muitíssimo revelador que a antiga civilização romana dispusesse de três termos diferentes para designar um beijo, sem processos figurativos ou conotativos implicados, como fazemos hoje em tom mais brejeiro.
Hoje, mantenho aquela última cena como de antologia, sem a ter, contudo, por antológica. Porque o beijo de há dez anos mudou tudo. Porque a neve terá certamente muito menos cambiantes que um beijo.