domingo, novembro 28, 2010

Chuva



«As coisas vulgares que há na vida
Não deixam saudades
Só as lembranças que doem
Ou fazem sorrir»

As palavras parecem Fado, mas só as palavras, nada mais. Logo, “Chuva” não é Fado, porque Fado é muito mais que poesia.


O Fado nunca me mentiu, nunca me atraiçoou, nunca se travestiu, a “Chuva” sim. O Fado é universal, nacionalmente universal, a “Chuva” não.


Gosto destes dias de clausura a quatro – quotidiano do mais vulgar que há, daqueles dias que não engendramos, dias que correm, só, sem mais. Estes deixar-me-iam saudades, estou certa, se os perdesse. Tenho por inestimável o banal, “as coisas vulgares que há na vida”, os dias curtidos, bebidos, fumados devagar. Se calhar sou eu que tenho muita sorte – aconteceu-me banalizar a felicidade? Ou estarão outros sob o efeito da cegueira que lhes oculta a felicidade no banal? Até do semáforo ao fundo da rua eu podia ter saudades, na sua cadência imutável – verde, amarelo, vermelho…

Gosto da chuva.

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