«As coisas vulgares que há na vida
Não deixam saudades
Só as lembranças que doem
Ou fazem sorrir»
As palavras parecem Fado, mas só as palavras, nada mais. Logo, “Chuva” não é Fado, porque Fado é muito mais que poesia.
O Fado nunca me mentiu, nunca me atraiçoou, nunca se travestiu, a “Chuva” sim. O Fado é universal, nacionalmente universal, a “Chuva” não.
Gosto destes dias de clausura a quatro – quotidiano do mais vulgar que há, daqueles dias que não engendramos, dias que correm, só, sem mais. Estes deixar-me-iam saudades, estou certa, se os perdesse. Tenho por inestimável o banal, “as coisas vulgares que há na vida”, os dias curtidos, bebidos, fumados devagar. Se calhar sou eu que tenho muita sorte – aconteceu-me banalizar a felicidade? Ou estarão outros sob o efeito da cegueira que lhes oculta a felicidade no banal? Até do semáforo ao fundo da rua eu podia ter saudades, na sua cadência imutável – verde, amarelo, vermelho…
Gosto da chuva.
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