Não conheço melhor laboratório de ciência da educação do que um parque infantil. Confrontos geracionais, conflitos de interesses, provações da auto-estima... está lá tudo. E por ser um espaço infantil, procuro não interferir muito, por me achar já crescida. Digo “muito”, porque há um mínimo necessário e desejável, se não quisermos que a tarde termine num outro espaço igualmente infantil, mas muito menos convidativo – as urgências de pediatria. Procuro situar-me naquele meio termo entre a mãe que acautela cada passo, inlusive o mínimo desvio da fralda do infante, e aquela outra, refastelada no banco de jardim, de telemóvel acoplado à orelha. Tento ainda olhar para a minha filha como mais uma, igual a todos os outros, o que, devo dizer, não é fácil. É inevitável vermos um filho como único, diferente dos demais, por isso um empurrão sobre o nosso tem outro impacto. Se a vítima for outro, o responsável pela agressão é só mauzinho; se o alvo for o nosso, então o agressor é um alarve. É natural, pois claro. Como é natural – e agora vem a pior parte – que as nossas crianças assumam, para elas próprias, o estatuto especial que ocupam no nosso espírito, tomando a nossa mente pelo mundo inteiro. Quer dizer: levamo-las a acreditar e repetimos-lhes que são especiais, mas esquecemo-nos de um pormenor que, de tão importante, deveria passar de parênteses a sublinhado, dactilografado a bold, elevado à categoria de pormaior: para nós. Elas são especialíssimas para nós. Ponto.
Vem esta reflexão, com cheirinho de autocensura, a propósito de uns minutos de lazer que passei com ela nos baloiços, esta semana. Assim que pôs o lindo, delicado, perfeito pezinho no parque, a minha pré-adolescente, de dois anos e quase quatro meses, foi abalroada por um alarve da idade dela. Antes de fazer deflagrar o pranto, teve tempo de gritar:
- Bruto! Isso não se faz à princesa!
Vem esta reflexão, com cheirinho de autocensura, a propósito de uns minutos de lazer que passei com ela nos baloiços, esta semana. Assim que pôs o lindo, delicado, perfeito pezinho no parque, a minha pré-adolescente, de dois anos e quase quatro meses, foi abalroada por um alarve da idade dela. Antes de fazer deflagrar o pranto, teve tempo de gritar:
- Bruto! Isso não se faz à princesa!
Pois é... quando passarem os egocêntricos dois anos, hei-de arranjar maneira de lhe explicar que aquele bruto é o príncipe de uma outra mãe.