sábado, março 24, 2007

Síndroma do sangue azul

Não conheço melhor laboratório de ciência da educação do que um parque infantil. Confrontos geracionais, conflitos de interesses, provações da auto-estima... está lá tudo. E por ser um espaço infantil, procuro não interferir muito, por me achar já crescida. Digo “muito”, porque há um mínimo necessário e desejável, se não quisermos que a tarde termine num outro espaço igualmente infantil, mas muito menos convidativo – as urgências de pediatria. Procuro situar-me naquele meio termo entre a mãe que acautela cada passo, inlusive o mínimo desvio da fralda do infante, e aquela outra, refastelada no banco de jardim, de telemóvel acoplado à orelha. Tento ainda olhar para a minha filha como mais uma, igual a todos os outros, o que, devo dizer, não é fácil. É inevitável vermos um filho como único, diferente dos demais, por isso um empurrão sobre o nosso tem outro impacto. Se a vítima for outro, o responsável pela agressão é só mauzinho; se o alvo for o nosso, então o agressor é um alarve. É natural, pois claro. Como é natural – e agora vem a pior parte – que as nossas crianças assumam, para elas próprias, o estatuto especial que ocupam no nosso espírito, tomando a nossa mente pelo mundo inteiro. Quer dizer: levamo-las a acreditar e repetimos-lhes que são especiais, mas esquecemo-nos de um pormenor que, de tão importante, deveria passar de parênteses a sublinhado, dactilografado a bold, elevado à categoria de pormaior: para nós. Elas são especialíssimas para nós. Ponto.

Vem esta reflexão, com cheirinho de autocensura, a propósito de uns minutos de lazer que passei com ela nos baloiços, esta semana. Assim que pôs o lindo, delicado, perfeito pezinho no parque, a minha pré-adolescente, de dois anos e quase quatro meses, foi abalroada por um alarve da idade dela. Antes de fazer deflagrar o pranto, teve tempo de gritar:

- Bruto! Isso não se faz à princesa!

Pois é... quando passarem os egocêntricos dois anos, hei-de arranjar maneira de lhe explicar que aquele bruto é o príncipe de uma outra mãe.

Do avesso - narração - canto III

O meu Eu-Eu e o meu EU-Pro(f) nem sempre se encontram. Eu-Eu desculpo (quase) tudo, com relativa facilidade. Eu-Pro(f) não desculpo (quase) nada, limito-me a tolerar a incompetência e falta de profissionalismo gritantes. Que remédio...

terça-feira, março 20, 2007

Do avesso - narração - canto II

Hoje disse à J., lá na escola, que sou muito má amiga. Acreditou. Melhor para ela.

Do avesso - narração - canto I

Teleconversa:

- E estás aí sozinho?

- Não, está cá mais gente.

- Gento ou genta?


Concluo que me fez mal ver Otelo e digeri mal Dom Casmurro.

Do avesso - dedicatória

Aos que me amam, para que me perdoem. Aos que me odeiam, para que se consolem.

Do avesso - invocação

Se acharem que vos choco, avisem.

Do avesso - proposição

Porque todos temos um lado menos agradável, menos próprio, de costuras à vista e cores mais pardas.

segunda-feira, março 19, 2007

(Co)sleeping

Deitados. Eu, ela, ele. Da direita para a esquerda, exactamente por esta ordem. A mãe vai sussurrando mimos ao pai, como se o posto fronteiriço não estivesse ali. Mas está:

-Chiiiiiiiiiiiiiu!!! - impôs ela o ultimato, quase ordem de despejo.

A mãe ficou demasiado estupefacta para reagir. Ao pai ocorreu-lhe que o princípio da livre circulação resolveria o problema, e resolveu. Porque há muros que importa derrubar, outros basta transpor.

domingo, março 18, 2007

Ciclo vicioso

Hoje deixei a casa num brinco. Só não te digo se foi causa ou consequência...

sábado, março 17, 2007

Ai o gozo que dá...

Manter um blog secreto.

Traída pelo ciclo da História

Tive mesmo de agir. Resultado: uma semana, dois quilos a menos. A imagem explica. Não se entusiasmem, que os primeiros são sempre os mais fáceis de perder...

sábado, março 03, 2007

Ecco la Donna


Começo a observar demasiadas semelhanças entre mim e as mulheres de Rubens. Este post até podia ter por título "Descubra as Diferenças", se estivesse na predisposição de exibir as minhas formas e se o desafio não resultasse num fastidioso jogo, que não ia além dos dois ou trêss pontos discordantes.

Mas quem me conhece sabe que não sou moça de prantos nem lamentos. Solução. Urge a solução. Posso seguir pelo asfalto, ou tomar o caminho das pedras, que é como quem diz: da dieta e da ginástica. A regularidade do asfalto, por outro lado, diz-me que a História se repete, como se repetem as modas, os parâmetros de apreciação estética... Mas o século XVII já foi há tanto tempo... Quando é que a coisa dá a volta? Quando se completam os 360º? Quando voltarão os homens a babar perante a exuberância dos contornos e a plenitude das formas? OK, eu espero.