sexta-feira, dezembro 21, 2007

In utero


Este ano tenho o Natal cá dentro. Nunca tinha acontecido. Sempre achei bonito que acontecesse. Este ano sou eu o embrulho, de laço azul. Tenho cá dentro o Rossio iluminado e aconchegado em lã e cheiro de castanhas assadas. Sinto-me calda morna de rabanadas, no consolo das avelãs roubadas à mesa ainda intocável. Era ainda uma menina da última vez que experimentei um Natal assim.


Um Natal assim para todos. Queria mesmo.


Há quem acredite no Pai Natal...

- Mãe, que prenda queres para o Natal? Um carro ou uma casa?

Eu prefiro acreditar na minha filha.

sábado, dezembro 15, 2007

Do Natal na escola...


Giro, giro é assistir à excitação dos pais cantando o que eles interpretavam em palco, com gestos e tudo, e ver-me também nesta alegre figura, à custa de tantos ensaios que chegavam inevitavelmente à casa de cada um, desde o início do mês de Novembro. Eu abanei o rabinho e tudo - atenção! - como o patinho da canção!

Giro, giro é dar comigo comovida, às lágrimas, com a actuação dos filhos dos outros...

Giro, giro foi ter sentido ali o verdadedeiro espírito de Natal, o autêntico, o genuíno, sem uma referência que fosse ao meu Natal católico. O colégio é laico, eu não, mas acho que é assim que deve ser. A pluralidade intelectual, moral e social também se educam.


sábado, dezembro 08, 2007

Frase do dia (de ontem)

«Estou tão cansada, que tenho medo de mim...»

quinta-feira, dezembro 06, 2007

Ela e Sophia. Sophia e Ela.

Lembro-me de ter passado por longos tempos de perturbação, aquando da morte de Sophia. Nesse mesmo ano nasceria Ela. E o inconformismo durou tanto tempo, que, dois anos depois, quando Ela agitou no ar uma folha rabiscada, gritando "Olha, mamã! É o mar!", a surpesa condicionada acendeu-me no pensamento um "Ah! Sophia! É o mar de Sophia! É a Menina do Mar!" Pois... Podia lá ser! Ela nunca lera Sophia. Eu nunca Lhe lera A Menina do Mar. Mas estava tudo lá - achava eu. De tal forma que tratei de colar as palavras ao desenho, a ver se a coisa convencia os mais cépticos, se lhes entrava pelos olhos dentro aquilo que eu estava a ver. Assim:



Meninas do Mar_0001
Colocado por dia-a-dia


Hoje fui buscá-Las, às duas. Não tropecei nelas. Fui buscá-Las. Em boa verdade, era a Ela que procurava. Novos receios fazem-me procurá-La, trazê-La até mim, puxá-La contra o meu peito. Na busca daquele desenho dei então com Sophia, porque ambas se haviam juntado há um ano atrás. E gostei tanto de as ver juntas! Para mim, foi feliz a hora em que me lembrei, precisei, de as misturar.



Texto: Sophia de Mello Breyner Andresen, excertos d'A Menina do Mar.
Desenho: Rita, a querida filha desta mãe.
Música: Madredeus, As Ilhas dos Açores.