quinta-feira, novembro 29, 2007

Há desejos que não podemos manifestar a uma mãe...




E eu só disse que aquele frasquinho de doce de abóbora estava óptimo...

(Doce de abóbora com noz, que eu como aos montes em tostas, com requeijão de ovelha... Prazeres de Outono, enfim...)

Sim, ajuda...


Só não sei até quando é que isto pega... Mas é verdade que se torna mais fácil orientar-lhe os horários logo de manhã, à tarde (na agora crítica hora do banho) e na difícil hora de deitar...

Esta gracinha apresenta alguns problemas de concepção - programação de actividades limitada a um total de 6o minutos, deficiente fixação de fichas, ausência de um dispositivo de bloquemento de botões... - ainda assim, ajuda-os imenso na criação de referências temporais e "5 minutos" passam, definitivamente, a ter um significado diferente de meia hora.



quarta-feira, novembro 28, 2007

Se me dão licença...

Com toda a humildade, inocência, espírito de cooperação e, até, sacrifício pessoal (onde é que eu já ouvi isto?) venho sugerir a construção do novo aeroporto na varanda de minha casa. A área é plana, com localização perto de Lisboa e boas acessibilidades. Estudo de viabilidade não há, mas isso arranja-se. Avaliação de impacto ambiental também não há... mas é preciso?

terça-feira, novembro 27, 2007

Consumismo - a negação

Já houve quem tivesse assistido, atónito, ao deambular da R. pelos corredores do hipermercado, sem dizer, uma única vez, "eu quero!..."

A verdade é que, desde que faço compras com ela, desde recém-nascida, NUNCA peguei fosse no que fosse para lhe dar, NUNCA lhe pus nada nas mãos do que se apresenta nas prateleiras, NUNCA lhe perguntei "Queres?" Quando muito, deixo pegar para ver, explorar, brincar até, sem esquecer que "o que aqui está é da senhora da caixa, não é nosso, só podemos ver e mexer sem estragar". Resumindo: nunca tomei a iniciativa de dar, e a ela nunca lhe passou pela cabeça ficar com o que não lhe pertence. Isto até ter noção de que tudo se pode comprar, tudo tem um preço (até as pessoas, dizem, mas a essa parte ela ainda não chegou). Acho que foi assim que se habituou a ver na ida às compras um momento de pragmático abastecimento doméstico, meramente.

Pouco antes de fazer três anos, começou a expressar desejos de natureza mais consumista, mas nunca como pedinchice. Vai dizendo: "A R. queria...", "A R. gostava...". E pode passar diante do objecto da sua ambição que não diz "Eu quero!"

E assim chegámos ao "A R. queria uma pita [pista]...". Ora, assim que o automobilístico desejo chegou aos ouvidos da avó, a pista tomou forma e esteve mais de um mês à espera, guardada no seu embrulho, enquanto não chegava o dia 26. O dia de aniversário saldou-se na módica soma de quatro prendas, um bolo do Noddy e um bolo de amêndoa e requeijão (desejo que a avó também apanhou pelo ar e não perdeu tempo nenhum a atender). Com o primeiro embrulho rasgado - a pita, pois então! - entrou numa espécie de transe, delírio, passou-se para outra dimensão, eu acho. De tal forma que não sei se acreditam, mas a prenda que os pais escolheram para ela ainda ali está, embrulhadinha, virgem na sua condição de presente de aniversário - ainda não a abriu. Eu entendo, não me melindro e até me orgulho, de certa forma - aquela não foi a prenda que ela quis, levianamente, entre o centésimo episódio do Ruca e o sexagésimo do Little People. Aquela foi a prenda que ela quis muito, muito, muito, que a manteve a sonhar acordada e pela qual soube esperar pacientemente.

Hoje, na mochila da escola, não houve como evitar o peso de dois Volkswagens, um camião tire, um furgão dos correios, uma carrinha blindada e um veículo da polícia - tudo em segredo, como devem ser mantidos os objectos do nosso desejo, cujo valor só nós entendemos.

segunda-feira, novembro 26, 2007

3

A conta que Deus fez – dizem. As contas que vou fazendo, incrédula – Como foi que somaste 3 anos? Como te atreves a chegar a casa comunicando-nos o nome do teu namorado? Que conversa é essa de nos vires ensinar que há cores transparentes e opacas? Com que autoridade queres combinar riscas, bolas, quadrados e flores, na indumentária que levas à escola? Que à-vontade é esse de andares aos trambolhões e vires depois dizer que te desequilibraste e magoaste o ombro esquerdo ou o direito, sem falhas de lateralidade?

Responde! Damos-te mais um ano para nos responderes! Bem... pensando melhor, damos-te a vida. Ou por outra... não nos respondas. Segue, desde que pares de vez em quando para te poder beijar... só para te poder beijar. SEGUE.